Silêncio (Medo – 1)
Foto: Mum And Son – George Hodan
E quando eles entram em casa, em silêncio? Aquele silêncio assustador, perturbador e incompreensível para os outros. Aquele silêncio que traz consigo muitas dúvidas e anseios e, não sei porquê, a nossa avaliação diz que estão a sofrer profundamente e, como o silêncio não traz palavras, temos de o descodificar com muita habilidade e engenho. Pensa-se uma, duas, três e, as vezes que forem necessárias, para escolher as palavras certas para iniciar uma conversa. Não sei se algum dia vou aprender a utilizar as palavras certas, mas sei que há uma necessidade imperiosa de dizer qualquer coisa... agora não; não é o momento certo… talvez mais logo ou amanhã. Vamos deixar que o sono traga alguma lucidez. Depois volta-se a pensar no mesmo… e se amanhã já é tarde? Ouvimos as notícias e, como estas raramente nos trazem algo de positivo, a angústia aumenta. O silêncio do outro lado mantém-se. Um semblante apagado, sem que nada nos ajude a decidir. Sentamo-nos ao lado deles e, o seu silêncio parece que nos empurra para o fosso da nossa existência.
Este silêncio traz impotência, porque é duro e constante. Não há sinal de que queiram falar, mas sentimos necessidade de passarmos para o papel de descodificador. Ganha-se coragem… bem… é agora! Começa-se por algum lado, se é o lado certo ou não, não sei quem sabe… e, do outro lado, cai uma lágrima, sai uma expressão diferente, mas palavras, nenhuma. Estamos algum tempo nisto. Muitas vezes estamos nisto sem sabermos exatamente se é o caminho certo. Sentimos que temos de os ajudar a sair daquele sofrimento e desconforto, porque sabemos das consequências de os perpetuarmos, mas, o que também sabemos, é que já estamos envolvidos no desconforto e no sofrimento. Eu tenho medo destas situações e, quando os afetos se misturam, tenho mesmo muito medo de não ter discernimento para ajudar!
Ermelinda Macedo