Desconstruir e nascer de novo (Humildade – 10)
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Tento entender as leis da raça humana, mas não fazem sentido. Oiço o que as pessoas dizem e baralho-me com o que fazem. Na minha cabeça, não bate uma coisa com a outra e há dias em que isto me desorganiza. Muita retórica, muita palavra eloquente e, no final, nenhuma consistência. Não consigo orientar-me nesta desordem. Sei que não tenho de entender tudo mas gostava de (con)viver de forma mais pacífica com este facto. Parte de mim sabe que metade desta ansiedade vem daqui, unicamente daqui. Na dicotomia da existência, sou uma micropartícula que se afunda nas incongruências (afinal, vulgares) do ser humano. Lutamos por coisas tão pequenas e insignificantes. Fechamos os olhos a genocídios e fraudes. Esquecemos de onde vimos e hipotecamos quem somos. Sem nexo. Sem propósito. Sem humildade. Não é humilde o que tem pouco, mas aquele que, tendo muito, se alicerça nas pequenas coisas, valoriza a singularidade de cada momento e jamais esquece o poder de um sorriso franco. Mas ser humilde não significa aceitar tudo, morder cada sentimento como se nada doesse ou esquecer os caminhos da angústia. Significa ver algo de belo ao longo do percurso, ainda que este seja sinuoso. Significa não permanecer onde nos ferimos. Significa ser grato, valorizar a vida, a magia do primeiro sopro de todas as manhãs, cada batida do coração que nos permite existir. Significa Ser e Sentir, em plenitude: desconstruir e nascer de novo. Tantas vezes quantas forem necessárias. Significa lembrar.
Hoje, apesar de me faltarem ainda tantas respostas, sinto a cadência do mundo na minha vibração. É um sentimento bom, reconfortante, que me devolve serenidade à alma, num momento de tanta inquietude. Fecho os olhos, respiro lenta e profundamente e faço de conta que tudo está no seu lugar. Talvez, quando os abrir, tudo esteja. Incluindo eu.
Alexandra Vaz