De volta aos 6, 8 ou 10 anos (Infância – 8)
Uns pozinhos de perlimpimpim fizeram magia e levaram-me de volta àqueles dias em que só a minha casa representava um mundo inteiro cheio de mistérios, de doces aromas e fantásticas aventuras.
Acabo de chegar a casa depois de um dia de escola, a minha mãe já veio do mercado do Bolhão e pelo cheiro que se espalha por toda a casa... hoje comprou morangos!!!
O meu irmão quer que eu vá experimentar uma das suas novas invenções:
Um gigantesco carrinho de rolamentos feito a partir de uma tábua de passar a ferro. Eu só tenho de me aguentar em cima dele, enquanto ele empurra rua abaixo. Resultado: joelhos esfolados, lágrimas nos olhos e um momento que jamais esquecerei.
Domingo de manhã, quer dizer que o meu pai nos trará a todos o pequeno-almoço à cama, com as suas famosas torradas com manteiga, depois, depois e até almoço pode ser que ele faça uma tenda de lençóis amarrados aos pés da cama e nós viveremos mais uma aventura para mais tarde recordar.
“- Susana deixa de mergulhar e pensa nas sapatilhas!” Um momento embaraçoso, só estava a apalpar um fato de mergulho. A minha mãe uma presença constante, carinhosa e ternurenta, que nos educa e que nos mima. A senhora de cabelos negros, olhos enormes e sorriso nos lábios.
Vem aí o Dia da Mãe e eu quero comprar uma prenda especial.
Para ganhar dinheiro, só tenho de vender os desenhos que fiz e rapinar umas moeditas do porta-moedas da minha mãe. Afinal a prenda é para ela...
É tão giro aprender a dançar, com os pés em cima dos do meu pai, só tenho de fazer de conta... E estou a dançar estas músicas que me parecem tão antigas!
Adoro vir para o quarto do meu irmão e jogar ao berlinde, pode ser que desta vez eu ganhe e lhe mostre a ele e aos amigos que sei jogar tão bem quanto um rapaz.
O meu pai hoje vai levar-nos a todos ao cinema. Adoro ir ao cinema!
Deu-me um chocolate para eu esconder no bolso e comer durante o filme. Não posso fazer barulho absolutamente nenhum.
Lá vou eu lanchar com o meu avô, a minha mãe recomenda-me mais uma vez, não vá eu esquecer-me das outras mil, para me portar bem.
E cá estou eu sentada, no Majestic a olhar em volta e a pensar que se somasse a idade de todos os que lá se encontram, poderíamos chegar ao início da existência do mundo.
Os pozinhos de perlimpimpim têm duração limitada, não tenho como percorrer todas aquelas horas, dias e anos que em conjunto, traduzem as preciosas memórias da minha infância.
Uma infância que me enche de saudades, fui muito feliz, uma criança com muita sorte.
Se um dia os meus filhos recordarem a sua infância como eu da minha, serei uma mãe mais feliz.
Susana Cabral