A herança (Herança - 10)
Foto: At The Bloodbank – Lynn Greyling
Decidira ter o privilégio de doar uma parte do seu sangue. Tivera conhecimento que era considerado dador universal. O seu tipo de sangue era O Rh negativo, por isso qualquer pessoa poderia receber o seu sangue, quer tivesse antigénios do tipo A, B ou AB e como o antigénio Rhesus estava ausente, poderia também ser recebido por todos o que tinham Rh positivo ou negativo. Compreendera que o seu sangue poderia ser partilhado sem restrições por toda a humanidade.
Enquanto observava o seu precioso líquido cor de rubi deslizar pelo tubo que lhe saía do braço, deixou-se afundar no nevoeiro dos seus pensamentos.
Vê-se rodeado numa nuvem alva de algodão. Consegue perceber os contornos humanos através da cortina de névoa, da voz que se lhe dirige. Diz-lhe a voz envolvente e carinhosa, que ele é um dos escolhidos para acordar a humanidade do negro pesadelo em que vive. É-lhe revelado que chegou o momento dos humanos terem consciência da sabedoria do universo e perceberem que cada ser humano é apenas uma partícula que faz parte de um imenso organismo infinito.
Acorda subitamente, com os movimentos de reanimação da enfermeira que entretanto já tinha guardado a sua vital dádiva.
Sorriu. Sentia uma paz imensa. Com um olhar profundo e sábio, as suas palavras flutuam amorosamente:
Somos todos um único ser infinito. O que corre nas veias de todos os humanos é o fluído da vida que nos liga uns aos outros, sem escolher raça, género, religião… Trazemos dentro de nós, a correr-nos nas veias, a herança de todos os nossos antepassados, desde os primórdios da vida em todo o universo. Somos todos um. Os herdeiros da Vida e da Sabedoria Universal.
Tayhta Visinho