A dinâmica do tempo (Tempo – 18)
Foto: Your Are Late – Petr Kratochvil
Falar do tempo é uma responsabilidade acrescida, um atrevimento, uma aventura; é tocar um assunto que mexe com tudo e com todos, portanto, vale a pena evitar enquanto não houver propriedade nem conteúdo próprio. Ou, sem o devido beneplácito, falece mérito para ousar referir-se a vida, a humanidade e as comunidades, este é o sentido do termo tempo que me ocorre deliberar de outra forma não teria substância.
Uma das virtudes do Homem é construir, quer sejam laços afetivos, habitação, carreira, todo o complexo de direitos que lhe assistem enquanto cidadão. A vida é um programa, um conjunto de projetos individuais cada qual com um objetivo específico, posteriormente conciliáveis e integrados num objetivo coletivo comum, a missão do Homem que é ser feliz, mas um sorriso verdadeiro.
O indivíduo enquanto ser pensante desenvolve de forma contínua e deliberada consciência sobre a missão árdua que lhe espera, na sua convivência com todos sem exceção e com os eruditos em particular, são transmitidas as regras e boas práticas de convivência, testemunho este que sela cada fase da vida completada. Em ato contínuo de assimilação das lições transmitidas, a pessoa envolve-se à realidade que lhe circunda e aplica as ferramentas apreendidas num processo de autoavaliação e consolidação do conhecimento na escola da vida.
Na verdade, o ser humano inserido numa sociedade não tem vida própria, é uma alma ambulante emprestada para corporizar desejos supremos, por conseguinte, vive de si e para os outros, estes que criam muitas expetativas numa só pista com sentido único, tal que o bom e apurado senso e o respeito ao tempo evitam colisões certas, ou que pelo menos ocorram com menor gravidade possível, afinal, o acidente é parte da vida, é uma sequência da circunstância.
Reza o velho adágio que existem três coisas que nunca regressam ao seu estado anterior, a oportunidade desperdiçada num momento de aparente bonança, a palavra proferida em ambiente eufórico em que a emoção domina a racionalidade, e a pedra atirada para o espaço ferindo terceiros ou, pela força da gravidade, a nós próprios. Em todas as circunstâncias descritas o autor pretende salientar o desperdício da substância, a matéria em causa, e do tempo real. Entretanto, em minha modesta opinião, ocorre a transformação dessas matérias e com a mão do tempo haverá um reencontro com o passado fortuito numa futura ocasião, agora presente.
O tempo por ser um recurso precioso, um bem económico, precisa de ser gerido tendo em conta o curso ou orientação estratégica, o seu uso racional permite maximizar os resultados perseguidos. Aqui reside uma virtude dos líderes, a sua relativa organização deve-se ao sistemático registo escrito dos factos e subsequente consolidação destes. A capacidade de trabalhar sob pressão mantendo níveis de desempenho estáveis resulta em grande medida do improviso, este que não é um mero acaso mas sim fruto desta organização e gestão do tempo.
Quando se esconde no tempo para justificar um baixo desempenho equivale a negar a dinâmica do tempo, rejeitar a sua própria existência e natureza. Não basta viver para o hoje, vive-se melhor quando se age hoje (aqui) a pensar no amanhã (ali). O desejável impacto que se pretende imprimir a médio e longo prazo, quando nos revemos, é o lapso de tempo que as ações ganham maturidade e refletem verdadeiramente as reais intenções, o ponto onde se atinge o equilíbrio entre a ação e o impacto na sua e na vida dos outros.
António Sendi