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Mil Razões...

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

21
Mar09

Os 14 anos (A Solidão do Adolescente)

Publicado por Mil Razões...

 

Acordo de manhã. Mais um dia. Mais um dia que tenho que sair da cama e só me apetece ficar enterrada nos lençóis. Olho para a roupa que tenho em cima da cadeira. Não há nada que me apeteça vestir. Qualquer roupa que use nunca vai ser suficiente boa para pertencer ao grupo. Elas riem-se de mim, apontam o dedo.
Até a Carolina já não fala comigo. Agora são todas amigas. Que elas se riam, eu não quero saber. Agora ela? Eu nunca esperei… com quem converso agora? Quem me apoia quando as lágrimas estiverem a saltar dos meus olhos? A quem ligo quando em casa tudo desaba? A quem posso contar as dores que me vão no coração?
Em casa a Mãe diz que se elas me tratam assim é porque não merecem a minha amizade. Mas só eu sei o quanto gostava de fazer parte do grupo.
Só quero fugir daqui, e nunca mais aparecer. Será que se eu desaparecer elas vão sentir culpa? Quem sabe a minha falta?
A quem tento eu enganar? Eu sei que não… iam chamar-me fraca. Mas eu não sou fraca. Sinto-me sozinha, é só isso. Porque é que ninguém entende?
Dói-me o peito, sinto cá dentro uma mão que me aperta o coração. Tristeza, disse a psicóloga da escola. Sofro de tristeza.
Mas eu não sinto isso… não é tristeza. É solidão. Já ninguém se senta ao meu lado na sala. Já ninguém me acompanha nos intervalos, já ninguém faz o caminho de casa comigo.
Queria fechar os olhos e que tudo isto desaparecesse, que todas as dores acabassem. Queria voltar a rir, a gostar das pessoas, a ter amigos.
Continuo deitada na cama. Lá fora chove. É o céu a chorar comigo.
 
Filipa
 
19
Mar09

Caminhando…

Publicado por Mil Razões...

 

Concentro-me no fio que vejo à minha frente. Olho somente para os 20 cm que me separam do passo seguinte. Posso parar, olhar para a frente, para traz, para cima, para baixo ou concentrar-me somente nos 20 cm à minha frente, talvez só 15, ou até 10.
 
Se espreitar para baixo, posso ver o abismo e lembrar-me que ainda não me desequilibrei.
 
Se olhar para cima, posso ver uma chuva de incertezas que me pode molhar mas adivinho a força que me pode guiar.
 
Se olhar em frente, posso ver terra firme ao longe que o meu fio chega a alcançar e percorrer. Mas sei que até lá tenho de me concentrar em cada passo, um de cada vez, tenho de olhar para os 20 cm à minha frente, talvez só 15, ou até 10.
 
Não olho para traz, não preciso. Tudo vem comigo. As gargalhadas e os choros, as tristezas e as alegrias que vivi, que senti, que partilhei, que recebi, que tanto recebi. Trago comigo todos aqueles cujo fio se cruzou com o meu, tecendo uma teia de amizade. Todos esses a quem eu desejo que sejam tão felizes. Trago-os em cada um dos meus passos, nos próximos 10 ou 15 cm à minha frente, quem sabe, até 20.
 
Estefânia Sousa

 

17
Mar09

Morte lenta (A Solidão do Deprimido)

Publicado por Mil Razões...

 

Sinto a minha vida a passar como um filme onde eu adormeci…
O que eu faço neste mundo?
 
Desde a minha adolescência que sinto sempre ser menos do que deveria! Meus pais gostam mais da minha irmã e ela é que é perfeita! Não consigo fugir às comparações diárias… até na escola todos viravam à sua passagem… e eu: invisível… conhecida apenas como a irmã mais nova dela. E esse sentimento persegue-me… ainda me sinto minúscula, sozinha, completamente perdida neste mundo onde eu não tenho lugar… Como eu me sinto a mais infeliz dos mortais!
 
Não consigo fazer o meu marido feliz e nem sei porque é que ele casou comigo! Talvez por pena? Quanto mais ele tenta chegar a mim, mais culpa sinto por não o merecer! Não gosto de mim… porque é que alguém gostará?
 
E ultimamente… custa-me até dizer isto… mas tenho pensado tanto que seria tão mais fácil desaparecer… Não tenho sentido vontade de fazer nada, tudo me custa… levantar-me da cama é extremamente doloroso… ver-me ao espelho ainda mais… fujo dos outros, fujo da vida como de mim mesma… sinto uma angústia… e vejo os outros a falarem comigo mas não os consigo ouvir… e ninguém consegue compreender-me… falamos línguas diferentes? Bem, eu própria não consigo falar comigo, não tenho linguagem nem vida! É por isso que mesmo no meio de uma multidão, eu sentir-me-ia sozinha…
Não sinto alegria em mim, não sinto alegria nos outros e nem sinto alegria no mundo… acho que morri e ainda não me enterraram…
 
Ana Lua

 

15
Mar09

Não desistir (A Solidão do Excluído)

Publicado por Mil Razões...

 

Bastou-me sentir o olhar dele, quando abri a porta do gabinete, para perceber logo que não tinha a mínima hipótese, como já era de esperar. Para dizer a verdade, nem sabia como tinha chegado tão longe… será que não se tinham apercebido de que não indicara a data de nascimento, ou que dificilmente uma menina de vinte e cinco anos teria aquela experiência profissional, ou terão gostado assim tanto da minha carta de apresentação?
Tinha-me convencido a mim própria a não desistir, apesar de todas as candidaturas sem resposta e das esperas por conversas infrutíferas com conhecidos mais bem posicionados. Afinal, são quarenta e sete anos e não setenta e quatro, a minha cabeça não só funciona perfeitamente bem como já não se atrapalha com poeiras, e toda eu encaixo no tal perfil pretendido, à excepção da idade, claro, factor que, cada vez mo deixam mais claro, tem mesmo o incompreensível condão de anular todos os outros.
Haverá alguma justiça nisto tudo? Por mais que tenha feito e trabalhado, o meu BI agora dita que já não pertenço ao grupo dos produtivos, que não sirvo para trabalho nenhum, que tenho de me resignar a não ser ninguém? Esta não é a minha história - como é que vim aqui parar? E ainda há o dinheiro. A família aguenta-se, mas eu agora vou depender do marido ou do dinheiro das heranças?
Os velhos a sério, esses sim devem sofrer. Abandonados em algum lar ou na rua, até, a esses foi-lhes deixado bem claro que já não fazem parte do mundo de todos, que não têm nada que esperar coisa alguma da vida, a não ser libertar espaço brevemente.
 
Mas eu estou apenas farta. Farta de estar em casa sozinha e de ter de esticar as lides que antes me demoravam uma manhã pelos cinco dias da semana útil. Adoro o meu marido, adoro os meus filhos e adorava a minha casa. Mas agora, como toda a gente ou trabalha ou estuda, não tenho ninguém com quem estar durante o dia, e quando eles chegam ainda me sinto mais como se estivesse a cometer um pecado qualquer. Às vezes saio doidinha com um saco das compras que há-de ir e voltar vazio só para ver pessoas. É melhor assim do que estar com conhecidos, que olham para mim ou com indiferença ou com pena, como se tivesse uma deficiência qualquer, lembrando-me, de uma forma ou da outra, de que não faço parte do mundo em que eles seguramente vivem.
Se ao menos eu não acreditasse que isso é verdade.
 
Ana A
 
10
Mar09

Ao espelho (A Solidão do Dependente)

Publicado por Mil Razões...

 

 

O início de mais um dia leva-o, inevitavelmente, ao ritual diário. Olha-se ao espelho e verifica o seu aspecto, o seu fato cinzento impecavelmente bem passado, a camisa engomada e uma gravata da moda.
O único senão naquele quadro tão bem produzido era as suas olheiras; mesmo com camadas de creme para as disfarçar, eram perceptíveis. A desculpa da farra da noite anterior teria de pegar mais uma vez.
 
O dia decorria com alguma normalidade e antes que os primeiros sinais de ressaca se manifestassem, levou-o a mais um gesto rotineiro e vital, procurar no bolso aquele saquinho que continha a “alavanca” que o empurrava para a vida e o fazia sentir capaz de tudo.
Não o encontrou no local habitual; com a pressa deve tê-lo colocado num outro bolso… Nada… Como os seus movimentos começavam a deixar transparecer o seu nervosismo e a sua ansiedade, um colega que o observava perguntou: “- Está tudo bem?”
Como poderia estar tudo bem? Como? Começava a precisar urgentemente da sua dose, as mãos começavam a tremer, o pânico estava a dar-lhe vontade de vomitar. Tinha dentro de alguns minutos uma reunião com o seu Director e já não conseguia pensar em mais nada, precisava apenas daquele líquido “milagroso” a misturar-se com o seu sangue e fazê-lo sentir-se vivo outra vez.
 
Começou a ver a sala andar à roda e inevitavelmente um “piloto automático” assumiu o controlo das suas acções.
Sem pensar em mais nada saiu disparado em direcção a sua casa; lá com certeza iria encontrar o que tanto precisava para conseguir acalmar e sossegar a “histeria” que sentia interiormente.
Entrou em casa e procurou no seu secreto esconderijo o saquinho que continha o seu “melhor amigo”. Vasculhou tudo, remexeu em tudo, mais do que uma vez e nada.
Sentia a cabeça a rebentar, os pulmões a asfixiarem e o coração batia de tal forma que parecia que iria explodir. Estava já sem capacidade para raciocinar, tinha as suas forças todas canalizadas num único sentido, onde, para onde e de que maneira iria conseguir a dose de heroína que tanto necessitava para voltar ao “normal”?
Sem hesitar dirigiu-se àquele local onde, é sabido por todos, se encontra com facilidade qualquer espécie de estupefaciente. Num rápido trocar de mãos teve finalmente em seu poder o seu “precioso paraíso”.
 
No primeiro local que lhe pareceu minimamente resguardado, preparou a substância que dentro de segundos e após ter perfurado uma veia, injectou no seu corpo. E esperou que o efeito se apoderasse dele e o trouxesse “de volta”.
Quando finalmente ficou no controlo da situação viu que, mesmo ao seu lado, estava um rapaz, talvez da sua idade, com um aspecto imundo e subnutrido, ainda com a seringa espetada no braço.
Aquele rapaz com quem partilhou o passeio e por quem, no primeiro momento, sentiu algum desdém, era um espelho de si próprio.
O que os separava era apenas a distância de umas roupas lavadas e um aspecto cuidado, porque ambos partilhavam um olhar raiado, uma vida condicionada e dependente e uma solidão desoladora, ainda mais perigosa que os efeitos da droga.
 
Susana Cabral

 

07
Mar09

Sei o que tenho a fazer (A Solidão do Doente)

Publicado por Mil Razões...

 

Naquela tarde, depois de mais um dia de trabalho, subo a rua em direcção ao autocarro que há-de levar-me a casa. É tarde. Está muito movimento e a minha preocupação é andar depressa para não atrasar o jantar. Cruzo-me com as pessoas sem reparar nelas. Não teria chamado a minha atenção se não fosse a sua figura frágil e o seu andar cambaleante; alguma coisa estava errada com aquele homem que há muito passou pela juventude. Olho para trás na tentativa de perceber. Lá estava ele, agora sentado no degrau de um edifício.
Não sem algum desagrado pelo contratempo, mas a sentir que deveria fazer alguma coisa, volto para trás e dirijo-me a ele perguntando se se sentia bem.
Não, não sentia.
Tinha saído de casa pela manhã e a pé, tinha ido até ao Instituto de Oncologia fazer o tratamento. Agora estava de regresso a casa, novamente a pé. Como não tinha comido estava muito fraco. Quis dar-lhe algum dinheiro e uma senha para ir de autocarro.
Não aceitou. Teria muita vergonha se aceitasse.
Desde que a mulher morreu que vive sozinho, esconde as dificuldades dos vizinhos, porque, segundo ele, tem muita dignidade. Reparo que, apesar de cansado e frágil, tem ar muito asseado.
Insisto para que aceite a senha de autocarro. Perante a recusa despeço-me e retomo o meu caminho. Pareceu-me que tentei fazer o que podia. Não entendia pois aquele mal-estar que me intranquilizava.
Nos dias seguintes pensei muito naquele homem. Disse a mim mesma que se nos voltássemos a cruzar, iria conseguir que ele aceitasse a minha ajuda.
Passaram uns meses. Uma tarde, com uma terrível dor de cabeça, saio mais cedo do emprego para ir descansar. A enxaqueca estava a consumir-me e só pensava em chegar a casa para me deitar.
Eis que de novo e no mesmo sítio me cruzo com ele. Estava mais frágil e ainda mais cansado. Tão cansado que não se fez rogado e aceitou a ajuda monetária, desta vez para ir de táxi porque o seu estado, já no limite das forças, não lhe permitia ir até ao autocarro. Agarrou-me as mãos e beijou-as. A situação era-me desconfortável e afastei-as devagarinho. Voltou a abordar a perda da mulher e o facto de morar sozinho. Interrompi-o dizendo que já me tinha falado disso. A minha cabeça continuava a doer e parecia rebentar a qualquer momento.
O homem, sentado no degrau, tentava levantar-se sem qualquer êxito. Do nariz, um leve fio de sangue denunciava mais um tratamento em Oncologia. Uma vendedeira de rua que entretanto se aproximou, ofereceu-se para o levar a casa. Tanto melhor, poderia comer uma boa refeição com o dinheiro que lhe dei para o táxi.
Ainda olho para trás a tempo de vê-la a ajudá-lo a entrar para o seu furgão. Experimentei uma sensação de alívio. Resolvi um problema àquele homem. Pontual, mas resolvi. Esta sensação foi muito curta porque aquela pessoa não me saía do pensamento. Novamente aquele mal-estar. Aquela mesma intranquilidade.
Hoje, e porque não há duas sem três, espero ter a sorte de me cruzar novamente com ele. Desta vez sei o que tenho a fazer.
Querido amigo, vou dar-lhe tempo. Vou deixar o jantar para mais tarde, aguentar qualquer dor de cabeça, sentar-me consigo no degrau do edifício, dar-lhe as mãos e vai poder falar-me de como é viver sem a sua companheira de tantos anos, de como é difícil enfrentar uma doença e os tratamentos violentos a que é submetido. Vai poder falar-me da sua solidão, dos seus medos… Vai poder falar-me do que entender…
Eu vou escutá-lo!
 
Cidália Carvalho
(Imagem: Cabeça de Velho, de Candido Portinari)
 
03
Mar09

O meu nome é Igor! (A Solidão do Imigrante)

Publicado por Mil Razões...

 

Desde que se mudou para o barraco, junto à estrada, que o barulho e o trepidar dos primeiros autocarros são o seu relógio despertador.
Acordou com a sensação de ter um corpo junto ao seu. Abre os olhos esfrega-os e volta a abri-los... parecia tão real!... Foi apenas o desejo a levar a melhor sobre a realidade, a sua Sacha está lá longe na cidade fechada de Vladivostok.
Desde que o governo instalou a base militar naval que a cidade deixou de estar aberta aos turistas e visitantes. Foi aí que ficou a sua companheira. O que ganha, mal dá para a renda de casa, mas com a ajuda dos pais e os restos que leva da cozinha da base militar onde trabalha, tem conseguido criar as três filhas.
 
Sente frio, o corpo é sacudido por um arrepio, instintivamente cruza os braços e aperta-os contra o peito, está vivo, e pela frente outro dia.
Mais um dia igual a tantos outros desde que deixou a sua terra bem longe, junto aos Urais. Tinham-lhe dito que na Europa a vida tinha outro brilho, não faltava onde trabalhar e os ordenados compensavam a distância. Com alguma sorte podia mandar algum para a terra e bem poupadinho, em pouco tempo poderia dar a Sacha a casa que lhe garantira virem a ter, um quarto grande para as meninas e cá fora um espaço para brincar e pôr uma mesa grande para reunir toda a família nos dias de festa.
 
Varre com o olhar o espaço exíguo onde se protege da chuva e do vento. O frio, esse continua lá; não há manta que aqueça a alma.
Já não se lembra da última vez que alguém lhe dirigiu a palavra, que o tratou pelo nome. Pronuncia-o só para si, baixinho e devagar Iiiggor. Quando miúdo, se a mãe se zangava, chamava-o carregando no “o” e arrastando o “r”, Igórrr. 
Com a lembrança da mãe o rosto perdeu rigidez e deu lugar a um tímido sorriso.
Sozinho, sem pressa de voltar a ganhar compostura, continua a sorrir e com demorado prazer repete baixinho: “min a zabut” Igor...

 

Cidália Carvalho

 

28
Fev09

Perguntas sobre a solidão

Publicado por Mil Razões...

  

Os caminhos percorridos, de mão dada com o vazio, são gélidos e sombrios…
Muitas são as almas que, sem saberem outra forma de vida, percorrem corredores de histórias vazias de conteúdo…
Vazias por não haver com quem partilhar.
Histórias de vidas que decorrem de uma forma incógnita por serem tão poucos, ou nenhuns, os que sabem ou conhecem o seu princípio, o seu meio ou o seu fim.
O sofrimento que fica escondido por aqueles que fingem um sorriso e o apagam sem dizer adeus…
A dor suportada de uma forma calada e conformada que acaba sem um possível aviso…
Demasiados rostos sem significado vagueiam à procura de compreensão e apenas permanecem insuportavelmente sós…
Questiono se a solidão permanente e forçada atira alguém para os braços do suicídio?
Pergunto se de um mito ou de um facto se trata, quando se afirma que a solidão é uma forma lenta de morrer?
A solidão retira a energia e a vontade de viver - será uma realidade?
Será com convicção que afirmamos que a vontade de morrer aparece naquele que não encontra uma identidade?
O desejo de sentir o último sopro, poderá ser provocado por falta de entendimento, compreensão e afecto?
Será a crença na força da natureza humana, para superar todas as dificuldades e adversidades, uma utopia?
 
Seja mito ou facto, realidade ou utopia, crença ou convicção, o suicídio abraça com mais força aqueles que se sentem sós e que estão sós.
 
Susana Cabral

 

29
Out08

A pergunta

Publicado por Mil Razões...

 
Debato-me com uma questão:
Quantos de nós já pensaram em suicidar-se?
Quantos escondem esse pensamento, essa vontade?
Por não saberem de onde provém esse pensamento, ou com vergonha de admitir que no mais íntimo dos seus pensamentos passa uma vontade de terminar com a própria vida.
 
Chegamos a pensar que é ofensivo questionar alguém, se pensa, ou se já alguma vez pensou, em suicidar-se e, por isso, nem nos atrevemos a perguntar, ou a pronunciar a palavra suicídio em voz alta, como se de uma doença contagiosa se tratasse.
Continuo a questionar-me quantos de nós, na verdade, já pensaram em pôr termo à sua existência, seja por pura infelicidade, ou por uma momentânea incapacidade de gerir uma dor interminável e esmagadora, uma dor que por si só tira a capacidade diária de respirar e de viver.
Parece que os que admitem esses pensamentos são “dementes”. Como se esses pensamentos nunca surgissem a que vive "normalmente" e muito menos a mim!!!
Eu!? Eu que vivo apaixonada pela vida? Eu que adoro viver? Eu que só por sentir o vento me sinto feliz?
Sim, eu!
 
Houve um momento na minha vida, em que pensei que o suicídio seria a solução do meu problema.
Um momento em que perdi a vida ao ver morrer uma das minhas almas gémeas. Perdi o seu calor, o seu conforto e a mão forte que me guiava.
Com milhares de pessoas à minha volta, senti-me só...
Os pensamentos vagueavam presos a um passado que jamais voltaria a ser presente... por muitos adjectivos que utilizasse, nunca conseguiria descrever, escrevendo, sentimentos devastadores e demasiado insuportáveis.
Perdi o ventre que me deu vida, os braços que asseguraram a minha sobrevivência, o sorriso que me fazia feliz...
O sentido da minha vida dissipou-se e com ele a vontade de viver.
Pensei e desejei morrer!
Morrer nos meus próprios braços!
Sim! O suicídio é um pensamento que já me ocorreu!
Mas houve alguém que se atreveu a perguntar!
Houve alguém que ousou “ofender-me”, salvando-me dos meus próprios pensamentos!
 
Quantos de nós pensam no suicídio?
Não existindo uma “ofensa” capaz de questionar a existência de outro caminho e de salvar?
E nem sempre é apenas um pensamento que ocorre num determinado momento da vida, em que confundimos a dor com a falta de vontade de viver.
 
O perigo estará apenas num pensamento, na vontade de morrer, ou estará também na falta de uma pergunta, feita com preocupação e com a capacidade de salvar?
 
Susana Cabral

 

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