O esperado mês de janeiro (Resoluções – 9)
Porquê que janeiro é o mês em que tudo se pensa e nada acontece? Pensamos em tudo porque é a viragem para o novo ano, momento que escolhemos para dar mais uma oportunidade a nós próprios de conseguir aquilo que é desejado há muito tempo. Resolvemos estruturar o pensamento para partir para a ação, resolver assuntos pendentes na vida como algo que sempre fez parte do dia-a-dia.
Nada acontece porque na realidade raros são os resultados práticos de toda a reflexão sobre as resoluções que pensávamos que deveriam acontecer... Talvez por, na realidade, desejarmos continuar com algo pendente, com objetivos por alcançar para que o horizonte não se torne perto demais. Isto soa a “cão que ladra não morde”, mas não é bem assim, pois na nossa mente algo muda, algo se resolve.
Somos aquilo que vamos construindo ao longo dos anos, desde os primeiros dias de vida e, há ainda quem diga, desde os dias em que ainda estamos no feto, na barriga da mãe. Não é numa noite, de 31 de dezembro para 1 de janeiro, que iremos resolver todos os assuntos pendentes, todas as ambições e frustrações que pairam há anos sobre nós. Mas esta noite fatídica pode ajudar! Pode ajudar a estruturar melhor o pensamento, pode ajudar a repensar em tudo o que ficou recalcado, em todas as experiências que vivemos no ano que termina e em experiências muito anteriores.
A quem não acontece pensar em episódios que nos marcaram há muitos anos, mas só nestas alturas é que se lembram deles? A quem não acontece pensar que desejariam ser completamente diferentes do que são atualmente? E o mês de janeiro, que tem de especial para pensarmos que poderá resolver tudo?
Para mim, este mês é apenas um símbolo de início, e cada um faz o que entende por bem com qualquer símbolo. Olhar para trás para pensar como irá para a frente... Não me tenho dado lá muito bem com isso... Pensar apenas para a frente sem olhar ao que já está feito... Poderia ser uma solução, mas seria também um salto no escuro... Arriscar pensando apenas no momento de hoje, naquilo que sentimos... Sim, é esta a postura que opto adotar, mas custa... No final do ano custa pensar que afinal não foram boas resoluções...
Esta noite serve principalmente para tomarmos consciência de nós próprios, mesmo que seja para sabermos que não queremos nenhuma resolução para breve, que queremos que tudo aconteça no novo ano, ou qualquer outro caminho que nos pareça melhor.
Olhar para trás e pensar que o que fizemos está feito e nada poderemos fazer quanto a isso pode ser bom e mau. Pode ser bom se pensarmos como um desafio a superar, como uma nova oportunidade para mostrar que afinal somos capazes de fazer muito melhor. Pode ser mau por percebermos que afinal as nossas resoluções, na maioria das vezes, não são as melhores, deixando-nos num estado caótico, longe de novas resoluções e perto de muitas reflexões.
Ora, é destas reflexões que tenho muito medo! Quando paramos para pensar durante tanto tempo, só porque achamos que temos o direito disso. Quando paramos fica sempre algo para trás, algo que não é recuperável, o tempo de estar com os outros e com o próprio. É aqui, neste mês de janeiro, que paramos para pensar de tal modo, que pomos em causa aquilo que nos outros 11 meses é tido como certo, o que pode influenciar outras pessoas que esquecemos de pensar durante este mês que queremos só para os nossos pensamentos. Mas, no final do mês, nada fazemos com o nosso interior, que seria a primeira a coisa mudar e não o que fizemos ou deixamos de fazer com os outros.
Sónia Abrantes (articulista convidada)