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Mil Razões...

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

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13
Jan12

Dizem que tudo se resolve (Resoluções – 4)

Publicado por Mil Razões...

 

Quando é que a página fica virada? Quando tomamos a decisão que o vamos fazer? Quando já fartos do marasmo de sentimentos recalcados erguemos a cara para cima, para apanhar um pouco de ar mais fresco? Quando conseguimos deixar de pensar naquilo, nele ou nela, todos os dias, a todas as horas? E quando conseguimos passar horas sem pensar e de repente nos lembramos que conseguimos não pensar nisso, será que estamos a melhorar ou a regredir? Como se força o esquecimento?

Se me esqueço, a dor adormece e não sofro tanto, mas uma parte de mim também adormece com a tentativa de esquecimento. E como se esquece aquilo que está sempre presente na nossa mente? Quando nos acorda de noite? Quando não impede de comer? Esperamos que passe? Damos tempo ao tempo, temos paciência? A frase que mais me irrita é quando me dizem para ter paciência. Quando ouço isso sou capaz de bater em alguém. Dizem que o segredo da paciência é distrair-se enquanto esperamos. Se me tento distrair sei que é apenas uma farsa, porque o sofrimento mantém-se, enterrado e cada vez mais enraizado. Não me consigo entregar totalmente porque sei que estou apenas a tentar ludibriar-me, como se engana o coração? Tento mudar os meus hábitos, reorganizar a minha vida… Não consigo ignorar, não consigo esquecer. Sempre que me lembro tento contrariar o meu pensamento com outra coisa, outra ideia, mas tudo parece tão oco.

Não consigo… não consigo ignorar. Preciso de me entregar à dor. Choro de noite, choro ao acordar, choro na casa de banho, choro no carro, grito no carro, choro no elevador, choro em casa, digo palavrões, choro, digo mais palavrões, choro, tenho soluços, choro, choro. Fico surpreendida com a quantidade de lágrimas que consigo produzir e com o meu vasto vocabulário, mas continuo, centrada no meu choro. Fico cansada mas choro mais um pouco e desfaço uma almofada. Durante o dia consigo reter-me, sei que mais tarde terei a desforra. Apresso-me para chegar a casa para ter mais tempo para chorar. E choro, com vontade, parece que quanto mais choro mais me apetece. Já não me lembro de chorar tanto. Já nem sei bem porque choro tanto, na minha cabeça atropelam-se várias tristezas e amarguras, nem todas relacionadas umas com as outras. Nem percebo porque me vêm agora essas lembranças. Mas choro por isso tudo. Deixo as lágrimas soltarem a dor, libertá-la e deixá-la cair. Choro até me rir de mim própria por tanto chorar. Lembro-me que preciso de beber água se não vou desidratar-me… não quero saber, vou chorar mais.

 

Até que começo a chorar menos. Já não me isolo para chorar, para ser sincera já começo a ficar cansada de chorar. O fluxo de lágrimas parou. Já não me apetece.

Ainda não esqueci nada mas já não há lágrimas para soltar. Sinto que não vou esquecer, nem quero. Não posso dizer que a dor tenha passado mas estou muito mais calma. Acho que sim, agora o tempo vai ser meu aliado. A minha perspetiva muda, eu estou a mudar, não propositadamente, mas apenas como fruto do meu processo. Um dia, vou arrumar as recordações, as boas e as más, arquivadas, como se faz com os casos resolvidos.

 

Estefânia Sousa

 

Porto | Portugal

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