Até amanhã (Depois da tentativa – 7)
Até amanhã, bom fim-de-semana!
E se eu não quisesse que amanhã chegasse? Se eu não conseguisse ter um bom fim-de-semana, há semanas, há meses.
Se só por acordar ficasse horrorizada, em pânico, como se acordasse sempre de um pesadelo e forçasse os olhos a fechar para continuar a dormir, quisesse que o corpo fosse pesado como uma maciça parede de betão, imobilizado, sem mexer. Se conseguisse ficar quieta, sem querer sequer ouvir a minha própria respiração. Para que os dias passassem e ficasse ali entorpecida,parada eternamente naquele momento único em que nem damos conta que adormecemos para logo de volta, sem darmos conta, infelizmente, acordar.
Só para conseguir que parasse, para deixar de sentir aquela dor. Tal e qual como aquele arrepio pelo corpo todo quando nos dão más notícias que parece que nos pára o sangue, aquela sensação de queda, de vazio, de desamparo. Poder parar tudo, a confusão que vai na cabeça, a desorientação, aquele estado de embriaguez.
Quero ficar aqui, não me quero mexer. Deixem-me. Ninguém vai dar conta. A semana passa, a vida contínua, somos tantos, ninguém vai dar conta.
Eu, um dia, vou conseguir não acordar.
Graça Silva