Apertos e palpitações (Perturbações - 4)
De olhos fechados continua a ouvir o tic-tac do relógio. Não quer abrir os olhos para ver as horas, mas, ao mesmo tempo, o coração começa a bater mais forte. ”Já passou mais uma hora e não consigo dormir… amanhã tenho de acordar cedo e já só tenho quatro horas para dormir”. Assim continuam os pensamentos a rolar numa cabeça demasiado ansiosa para relaxar. ”Que raiva! O que me está a acontecer?! Porque não consigo dormir?!. Há dias que não durmo, estou tão cansada!”. De repente rolam umas lágrimas de inquietude e sofrimento… Trinta minutos mais tarde, depois de uma mente esgotada, o organismo ressente-se e acaba por adormecer.
Triiiiiiiimmmmm!!!!
Abre os olhos arregalados, com o coração aos saltos! Assustada, ainda desorientada, pergunta-se onde está. Um minuto mais tarde começa a perceber que está na sua cama e que está a acordar de um sono de três horas. Mais um dia, menos uma noite tranquila. Fatigada, levanta-se. Sente-se inquieta. Prepara-se para o trabalho sem vontade nenhuma, mal se arranja, mal toma o pequeno-almoço. Sai para a rua. O coração continua apertado. ”O que se passa comigo? Porque estou assim tão ansiosa?”. Evita o contacto ocular com os de mais transeuntes. Entra no metro, que provação! Começa a sentir as mãos a suar, sente-se incomodada, só quer sair dali. Irrita-se. Tem o rosto marcado por um olhar de ódio.
Finalmente chega ao trabalho. Senta-se na sua secretária, esboça um sorriso amarelo aos colegas e começa a arranjar a secretária. “Esta papelada vem para aqui, estes documentos são para arquivar…”. Controla todos os pormenores da sua mesa, sabe que tem controlo sobre o trabalho, por momentos sente o coração sossegado, tranquiliza-se e perde-se neste mundo. Não ouve nada ao seu redor, perde todas as interacções entre os colegas e todas as que a ela se dirigem. De repente ouve a chefe chamar o seu nome. Estremece. De novo palpitações, toda ela em alerta.
- Ana, venha ao meu gabinete. Silenciosa, caminha como se percorresse o corredor da morte.
- Diga.
- Ana, acho que tem feito um bom trabalho até agora, mas estou preocupada consigo. Parece-me pálida, tem estado alheada, isolada. O que se passa?
- Nada, chefe. Está tudo bem.
Sente uma vontade de chorar. Por mais que quisesse explicar o que se passa, nem ela própria o sabe. Só sabe que está sempre preocupada, em alerta, não consegue dormir, e facilmente se irrita, pelo que prefere estar sozinha.
De novo em casa, dói-lhe o peito, sente uns apertos no coração. Começa a sentir medo de ficar assim para sempre, medo de ter um ataque cardíaco, de perder o controlo da sua vida, de não conseguir atingir o que sempre quis, de não ter carreira, de ficar só no mundo, de nada lhe restar… Estes anseios manifestam-se na sua mente a uma velocidade estonteante. No entanto as horas passam e apesar de esgotada, os olhos teimam em não cerrar. Esbugalhados, fixam mais uma madrugada. Desespera mais uma vez, angustiada. Na sua cabeça surge uma necessidade: “Não aguento mais isto, não pode ser assim para sempre. Preciso de respirar, de dormir, de viver.” Entre lágrimas desabafa: “Preciso de ajuda.”
Cecília Pinto