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Mil Razões...

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

30
Set19

Desconstruir e nascer de novo (Humildade – 10)

Publicado por Mil Razões...

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Foto: People - Pexels

 

Tento entender as leis da raça humana, mas não fazem sentido. Oiço o que as pessoas dizem e baralho-me com o que fazem. Na minha cabeça, não bate uma coisa com a outra e há dias em que isto me desorganiza. Muita retórica, muita palavra eloquente e, no final, nenhuma consistência. Não consigo orientar-me nesta desordem. Sei que não tenho de entender tudo mas gostava de (con)viver de forma mais pacífica com este facto. Parte de mim sabe que metade desta ansiedade vem daqui, unicamente daqui. Na dicotomia da existência, sou uma micropartícula que se afunda nas incongruências (afinal, vulgares) do ser humano. Lutamos por coisas tão pequenas e insignificantes. Fechamos os olhos a genocídios e fraudes. Esquecemos de onde vimos e hipotecamos quem somos. Sem nexo. Sem propósito. Sem humildade. Não é humilde o que tem pouco, mas aquele que, tendo muito, se alicerça nas pequenas coisas, valoriza a singularidade de cada momento e jamais esquece o poder de um sorriso franco. Mas ser humilde não significa aceitar tudo, morder cada sentimento como se nada doesse ou esquecer os caminhos da angústia. Significa ver algo de belo ao longo do percurso, ainda que este seja sinuoso. Significa não permanecer onde nos ferimos. Significa ser grato, valorizar a vida, a magia do primeiro sopro de todas as manhãs, cada batida do coração que nos permite existir. Significa Ser e Sentir, em plenitude: desconstruir e nascer de novo. Tantas vezes quantas forem necessárias. Significa lembrar.

Hoje, apesar de me faltarem ainda tantas respostas, sinto a cadência do mundo na minha vibração. É um sentimento bom, reconfortante, que me devolve serenidade à alma, num momento de tanta inquietude. Fecho os olhos, respiro lenta e profundamente e faço de conta que tudo está no seu lugar. Talvez, quando os abrir, tudo esteja. Incluindo eu.

 

Alexandra Vaz

 

16
Set19

Diria Arquimedes (Humildade – 9)

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Foto: Artwork - PublicDomainPictures

 

Não somos sós, felizmente, perante o mundo – a Terra e mais além – e perante os nossos pares, a sociedade que nos enquadra, cultiva, molda e que... seria ligeirissimamente diferente se nós não existíssemos. Seria quase tudo igual, menos eu, um de nós.

Pequeníssimos perante tanta e variegada gente, e tamanho mundo, e natureza, e tudo. Capazes, no entanto, a partir dessa infinitésima pequenez de fazer a diferença, mais ou menos naturalmente. Com vontade, expetativas, trabalho, contributo.

Não é contraditório, diria, é concomitante.

Não será um objetivo, acontece.

Isso de provocarmos a diferença, fazer importar a nossa existência. Talvez até aconteça tanto mais quanto melhor nos conhecermos – as nossas fraquezas, defeitos, debilidades - e ao que nos rodeia. Quanto mais tivermos os pés bem assentes na terra, quanto mais formos humildes, respeitadores, não nos sentirmos mais do que nada ou ninguém. Nem menos, é claro.

Se tivermos humildade, teremos uma sólida, forte, base de apoio, para podermos ser ambiciosos, querermos crescer, progredir, desenvolvermo-nos, contribuir.

Sem pisar ninguém. Sem menosprezar ou desconsiderar.

Acrescentando o nosso humilde contributo.

 

Como diria Arquimedes, tenhamos nós um ponto de apoio (a humildade) e uma alavanca (a ambição) e levantaremos o mundo.

 

Jorge Saraiva

 

09
Set19

Sê criança, sem vergonha (Humildade – 8)

Publicado por Mil Razões...

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Foto: People - Hai Nguyen Tien

 

Ser humilde é teres a noção da criança que outrora foste. A vida encarregou-se de te dar tempo e tu deste-te ao encargo de te dares o que quiseste, ou o que conseguiste. Pelo caminho ganhaste e perdeste. Às vezes avançaste, noutras recuaste. Desde o início dos inícios criaste relações, primeiro com o ventre materno e, pouco mais tarde, com todos os outros que tocaste e te tocaram. Aprendeste a deslocar-te no mundo e a comunicar. Afirmaste-te num espaço, mostrando quem és, o que te define, no que acreditas. Umas vezes fizeste-o bem, noutras nem por isso. Talvez a culpa não seja tua, mas da família onde cresceste, que, por sua vez, cresceu numa família maior que ela. Talvez a culpa seja da sociedade, que te empurrou para a cultura do ter e não do ser. Sim, eu sei que já te mostraste arrogante e pretensioso. Sei que já foste tudo menos humilde. Sei que já mentiste, sei que já manipulaste. Sei que já te mostraste quem não és. Mas, como se diz por vezes, levianamente, “não faz mal…”. Não faz mal porque também eu já o fiz. Eu e todos os que conheces e conhecemos. Vivemos numa inquietude constante, numa corda fina que calcorreamos com um certo medo, com medo de que o medo nos apanhe. E assim construímos muros que nos protegem, mas que nos separam. A racionalização, a justificação e a segurança mantêm-te muitas vezes preso, colado a uma imagem que com muito custo construíste, e com muito esforço escondeste tudo o que não és. E, afinal, quem és tu? O relógio que te adorna o pulso? O carro que te preenche a garagem? O telemóvel que trazes no bolso? Ou os likes que tens nas fotos de verão? Enfim, se calhar tudo isso e nada disso. Curiosamente, por vezes até escondes o que tens, para te mostrares humilde. Ou então mostras, mas de forma despretensiosa, como se o objeto em causa fosse uma banalidade que não te custa a pagar. Contudo, mais danoso para ti e para todos, não é quando se fala de materialidade, mas sim quando remete para a consciência e comportamento. É agires em conformidade. Olhares para o mundo e para os outros com respeito e admiração. Não dares as pequenas e as grandes coisas por certas. Dar para receber. Ser humilde para aceitar o que te dão. Ser humilde é teres a noção da criança que outrora foste.

 

Rui Duarte

 

06
Set19

Essa ponderável espessura das coisas tristes (Humildade - 7)

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Woman - Claudio Scott.jpg

Foto: Woman - Claudio Scott

 

Acordar, na travessia da noite, para a aflição da pele. Para o incómodo fino, por contato opressivo, do lençol de cambraia fina que nos cobre. Ou para o aperto estreito e mordente do elástico das calças do pijama, ali, cortando a linha da cintura, como que nos dividindo em duas metades de corpo. Dolorosamente. Acordar, na lâmina do pesadelo, para o tormento da memória, ao peso do silêncio escuro que nos sitia.

As coisas – reflito, tentando alienar a consciência exacerbada do meu corpo – têm, todas, um peso próprio: mas sempre variável, sempre dinâmico, sempre circunstancial, e, dentro dessa circunstancialidade, sempre subjetivo. Uma gravidade única, em cada momento, para cada pessoa. Uma carga diferente para cada estado de alma e para cada alma. Uma pressão desigual em cada corpo, sob iguais condições, e para diferentes condições, num mesmo corpo.

Tudo depende do tempo, penso, arrastando o meu vertiginoso raciocínio para ventos, humidade, pressão atmosférica, anticiclones e ondas de calor.

 

Não.

Não, condições atmosféricas não têm nada a ver com isso.

Tudo depende do Tempo. Tempo, aquele feito de instantes, de esperas e de esperanças, de demoras e de esquecimentos. Tempo, aquela força centrífuga que sempre nos salva, enquanto nos devora. Tempo, aquele que se divide, generosamente em “tempos” – de luz, de escuridão, de riso, de choro, de alegria, de angústia, de amor… ou de ódios (digo «ódios», porque quero dizer ódios, aquelas pequenas raivas e ressentimentos não-tão-viscerais-como-Ódio-com-letra-grande-e-no-singular).

Ah, a insuportável espessura do silêncio, sobre o meu corpo mordido pela insónia! A veloz fuga dos meus pensamentos, através do vazio que me encapsula e me transporta além-universo, além-razão, além-noite, além-pele.

 

Além – Eu. Como numa enormíssima tela, movendo-me penosamente, cercada de adversíssimas condições de vento, humidade, pressão – um outro tempo, num outro Tempo… Eu, carregando uma carga esmagadora sobre as minhas costas estreitas e magoadas. Eu, tentando sorrir, apesar das dores, conseguindo levar o Amor dividido em duas metades, uma em cada mão, e ainda levando nos olhos a visão de um céu só meu. Eu, depreciando o peso das coisas tristes. Eu, apreciando o valor dos instantes felizes. Tanto Tempo, tantos tempos...

 

Regresso ao silêncio, à escuridão segura do meu quarto. Regresso – húmil, apaziguada, condescendente. O meu coração aquieta os monstros que o habitam, por milagre habitual.

O lençol de algodão toca a minha pele como uma carícia, o seu roçar é fresco, leve, macio, reconfortante. A minha cintura ajusta-se, dócil, ao elástico brando das calças do pijama, e o meu corpo reconstrói-se, como um puzzle de encaixes fáceis e perfeitos.

Ouvir a noite, lá fora, amanhando os mistérios da reparação, dos ciclos, dos tempos. Adormecer, ao sereno marulhar da mente – e à oblação do corpo aos ventos da Humildade. E da Gratidão.

 

Teresa Teixeira

 

02
Set19

O artista e os imbecis (Humildade – 6)

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Foto: Acolá - Fernando Couto

 

Paolo Zanarella é músico, pianista. Para alguns, muito bom, para outros, bom ou nem por isso, que isto do gostar é muito democrático. O que o distingue dos demais e o torna conhecido mundialmente é a forma de estar e de nos dar a sua música. Um pianista fora do lugar, é assim que se intitula e dá mote aos seus concertos. Leva o piano para as águas do grande canal em Veneza, para uma gôndola, um rio, montanhas, praças, suspenso entre dois prédios, e muitos outros lugares tão inesperados quanto os enunciados. Aí atua, dá asas a quem quer ser asado e elevar-se ao som dos seus acordes. Dispenso-me de mais delongas sobre as suas atuações porquanto, a quem interessar, poderá segui-lo na Internet. Não é o Paolo Zanarella, músico, que quero dar a conhecer, se refiro o seu lado artístico é tão somente para atentar no quão famoso é e de como isso não o eleva nem o coloca em cima de tamancos.

 

Cruzei-me com o Paolo Zanarella num dos seus insólitos momentos musicais. Desta vez o piano estava instalado no meio da ponte Pietra, no rio Ádige em Verona. Fato preto, cachecol branco, coluna ereta, posições relaxadas, querendo isto dizer, descontraído, as mãos levemente arqueadas. Era o Paolo na pose de pianista a percorrer os dedos pelo teclado num arranque de melodias de fazer parar os transeuntes. Parei também. Gostava do que ouvia. De repente, a música calara-se. Paolo parara de tocar. Levantara-se e falava com um casal que o abordara. De que falavam? Estariam aquelas pessoas a tecer-lhe elogios e ele, levantara-se para respeitosamente agradecer? O casal, turistas denunciados por um mapa aberto e, nessa qualidade, no gozo de liberdades reconhecidas a quem é de fora, queria saber que direção tomar para chegar ao castelo que se via no cimo da colina, mas sem estrada visível de acesso. O absurdo da situação teve a espantosa solicitude do artista que, com visível simpatia, os esclareceu indicando-lhe a rua que deviam percorrer, para de seguida continuar a fazer o que o tinha levado ali – tocar.

 

Se bem que, concetualmente, humildade seja vizinha próxima da cordialidade, respeito, simplicidade, ela é muito mais do que estas etiquetas impostas socialmente em nome de uma convivência civilizada. A humildade é a face visível da capacidade de nos reconhecermos e agirmos fielmente com o que sabemos ser. Nesta medida, a humildade é um exercício interessante que nos põe à prova todos os dias. É grande a tendência para nos descentrarmos do que somos e focarmo-nos no que esperam que sejamos, mas vale a pena contrariar esta tendência, por ninguém, por nós, para não cairmos em vaidades ou humilhações, riscos que não corremos quando sabemos o que somos e valemos, façamos nós o que fizermos.

A humildade de Paolo Zanarella pô-lo à prova publicamente, ele soube estar à altura e eu gostei do que vi, e do que ouvi, já agora.

 

Cidália Carvalho

 

Porto | Portugal

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