Fantasma real (Dor – 9)
Foto: Barbell - Digital Designer
É emocional e física. Pode ser aguda, crónica, baça, difusa, cortante, dilacerante. Até pode ser fantasma. Não sendo por isso menos verdadeira e real.
Marcante, como pode ser, até consegue fazer com que olhemos para trás, na nossa vida, com outros olhos. Quem nunca se sentiu ou apercebeu “que era feliz e não sabia”, por estas ou outras palavras? Ou o contrário: “estava numa via dolorosa e nem me dava conta”, achava normal que a vida fosse assim, tinha de ser assim, penosa.
Sim, a dor, é da dor, do sofrimento, físico ou emocional, que se trata aqui, proporciona-nos por vezes olhar para o retrovisor e vermos a vida de outro modo, com outros olhos, e também, ou por isso mesmo, nos permite olhar para a frente e projetar a vida de outra maneira.
Claro que, deixando o senhor von Sacher-Masoch em paz, a dor não se deseja a ninguém; mas é verdade também que podemos retirar dela ensinamentos, experiência, resistência, resiliência. Conviria, direi, encontrar um equilíbrio entre a sua aceitação, reconhecimento e o seu combate, com vista à eliminação, se possível. O que não será muito positivo será ignorá-la, como que num estado de negação, encará-la como se de uma fatalidade da qual não podemos sair ou, que seja, atenuar, se tratasse.
Falámos da dor que nos surge sem aviso, sem a procurar, de repente ou não, constante ou não, exasperante.
Sim, às vezes temos de padecer voluntariamente, voluntariosamente, ter dor(es) para atingir algo, um novo e superior patamar. Mas aqui estamos num processo de decisão e de vontade. Sabemos que é transitório, conhecemos o prémio, é uma dor que acreditamos, desde o início, como boa, podemos dizer que são dores de crescimento.
Só para aliviar, termina-se com esta: e aquelas dores musculares, naqueles um ou dois dias depois de fazermos exercício físico que já não fazíamos há demasiado tempo, só eu é que acho que têm (pelo menos) um lado saboroso, como que agradável?
Jorge Saraiva