O mais solidário (Solidariedade - 12)
Foto: Homeless - Brigitte Werner
Sou solidária. Todos somos! Seremos? Quero acreditar nisso, que em algum momento da vida, cada um de nós foi capaz de estender a mão ao próximo. Mas aquilo que sei é que o mais solidário é aquele que, no seu íntimo, sabe exatamente o que é necessitar de algo, mas algo vital. Seja uma refeição, um abrigo, um agasalho ou mesmo um abraço caloroso naquele momento em que nos sentimos em queda livre e com dúvidas se o paraquedas irá abrir-se.
Hoje em dia todos necessitam da solidariedade alheia. Ontem, hoje, amanhã e depois de amanhã tal como num futuro próximo, fui, sou e serei “convidada” a ser solidária. E nalgum desses momentos encontrei a causa para a qual quererei dar de mim. Mas será que se pode chamar solidariedade, nestes casos? Porque a sensação que tenho é que a maioria de nós está apenas a ceder, seja a algo chamado “pressão social” ou algo chamado “peso na consciência” porque no meio de tantas solicitações “não me vou sentir bem se não ajudar pelo menos uma”. E assim a minha missão fica cumprida. Não me parece genuíno, principalmente quando oiço no supermercado “todos os anos, nesta altura, é a mesma coisa, pedem para isto e para aquilo e pensam que podemos ajudar toda a gente!”. E aí é a pressão a falar alto. Mas provavelmente, ou muito certamente, são esses que, ao longo de todo o ano, nunca se “lembraram” de ser solidários!
É mais solidário aquele que, espontaneamente, despende do seu tempo para dedicar ao outro, naquele momento mais inesperado e de verdadeira necessidade. É mais solidário aquele que recebe solidariedade e sabe partilhá-la com aquele que também necessita. Comove-me sempre ver aquele sem-abrigo com o seu amigo de quatro patas, com quem partilha a sua refeição, o seu desconforto, as suas mágoas, mas principalmente o seu amor. É mais solidário aquele que dá pouco, porque é aquilo que tem, mas que dá de coração, sem se queixar ou sem necessidade de se exibir. É mais solidário aquele que se dedica a uma causa em que acredita, que a cria ou que a encontra, se identifica e se envolve de corpo e alma.
Mas ainda acredito que todos somos solidários! Todos nos comovemos verdadeiramente em algum momento da nossa vida e, espontaneamente, sem esperar retorno, damos com coração.
Marisa Fernandes