Eles vão mas ficam (Herança - 3)
Foto: Grandparents - James Timothy Peters
Gostaria de dizer que todos os que me querem bem ficam para sempre comigo, mas às vezes não o sinto, pelo menos fisicamente.
Quando faço um telefonema à hora do almoço, à minha irmã, a perguntar “O que almoçaste hoje?”, lembro-me sempre do meu pai, quando o fazia diariamente.
Não era uma pessoa com posses, por isso não nos deixou nenhum carro nem qualquer casa ou terreno.
O que nos deixou foi uma grande marca na nossa forma de ser, embora às vezes nos esqueçamos.
Deixou o seu riso que só nós de casa é que conhecemos.
Deixou-nos as suas brincadeiras e vontade de brincar.
Deixou-nos a vontade de estarmos sempre juntos em família, nem que seja para discutir, dormir a sesta ou ver um bom filme.
Deixou a lembrança de um avô completamente babado, que não pegou nas suas filhas ao colo com medo de nos partir, mas que com o primeiro neto já o conseguiu, como se de um anjo da guarda se tratasse.
A herança mais valiosa que tenho é essa, a memória de alguém que me ajudou a ser quem sou e com tudo o que sou.
Sónia Abrantes