A vida é uma dádiva (Dar e receber - 18)
Foto: Baby – Public Domain Pictures
Somos seres humanos e, intrinsecamente, precisamos de amor, de amar e ser amados, precisamos uns dos outros, e o que nos mantém ligados uns aos outros, são os sentimentos, os laços que se vão criando.
Precisamos, desde tenra idade, do amor dado pelos pais, para crescermos felizes. Talvez que a relação mais desigual, em que se dá sem estar à espera de receber, seja com os nossos filhos, sendo que o papel de progenitor inclui cuidar, ensinar, disciplinar e orientar na vida. Esse amor é dado de forma incondicional. Ao longo da nossa vida continuamos a precisar desse amor, precisamos de alguém que cuide de nós e que nos ame. Esse amor incondicional é das formas mais altruístas de amor e não deve ser circunscrito, deve ser alargado e dado em qualquer relação: amigos, entre marido e mulher, entre pais e filhos e até desconhecidos.
Uma das formas desse amor, dar sem esperar receber algo, é o voluntariado. Há coisas tão simples, como gestos, sorrisos ou abraços que fazem a diferença em qualquer ser humano. Podemos, inicialmente, pensar apenas que ao darmos contribuímos para a felicidade ou bem-estar do outro, a quem a dádiva poderá fazer toda a diferença; contudo e mais interessante é que o outro a quem demos, dá-nos a dobrar ou a triplicar.
Uma vez encontrei uma senhora que, para mim, é das pessoas mais difíceis para lhe chegar ao coração. Raramente ri, embora já lhe tenha “sacado” um ou outro sorriso. Está sempre virada para o passado, muito metida dentro do seu mundo, passa grande parte do seu tempo sentada numa poltrona e raramente fala com alguém. Essa senhora preocupava-me. Um dia, aproximei-me dela e dei-lhe vários abraços, não me lembro do que lhe disse, mas sei que chorou como uma criança e em cada vez que a abraçava, chorava mais e ria-se ao mesmo tempo, de alegria.
Estas situações levaram-me a pensar: “É só isto? Isto basta para sermos felizes? Parece-me pouco.”. Eu acho que, no fundo, o que dou é pouco, mas para quem recebe é tudo. O que dou, às vezes, move montanhas, toca-lhes no fundo da sua alma e choram, do fundo do seu coração, de comoção. Eu dou-lhes, talvez, o que elas precisam, e elas a mim dão-me o que eu preciso. Cada um do seu jeito.
Helena Ferreira