A voz (Responsabilidade – 15)
Foto: Guitar – Lorri Lang
Em miúda queria ser graúda muito depressa. Chegar aos 18. Ser dona de si. A única a decidir e opinar sobre o seu futuro, mas principalmente o presente.
Os sermões exasperavam-na, os conselhos desesperavam-na.
Queria ser livre como um pássaro. Queria ser. Queria o mundo, os amigos, o amor. Os 18 eram sinónimo de liberdade, independência, autonomia.
De nada valia ouvir dos mais velhos "A vida não é como pensas...".
De nada valia ouvir dos pais "Enquanto viveres cá em casa de nada te vale teres 18.".
De nada valia porque nessa idade nada vale e os conselhos entram a mil para saírem a dez mil à hora.
Não há sonhos ou desejos mais egocêntricos que os dessa idade onde se acredita ser adulto sem o ser.
Depois veio a vida como ela é.
Primeiro a faculdade.
Os amigos, que pareciam ser os únicos no mundo e que o seriam para sempre, deram lugar a novos amigos.
O amor, que só podia ser para a vida, ficou na escola onde não mais haveria de voltar.
O estudo, que parecia fácil até então, desdobrou-se e multiplicou-se em dificuldades. A liberdade, que imaginara tão intensamente e durante tanto tempo, não tinha afinal o cheiro dos sonhos de ontem.
Aos poucos, uma pressão que outrora vinha de fora, dos pais, deu lugar a uma voz interior que lhe falava em surdina, tantas ou mais vezes que a mãe noutros tempos: “Estudar, tens que estudar”, entre tantas outras coisas.
Ainda hoje não sabe o dia ou a hora da transformação. Mas recorda-se da sensação.
Foi no momento em que acreditou mergulhar na liberdade que uma voz a amarrou para a eternidade. A voz da responsabilidade.
Joana Pouzada