E agora já cresci (Responsabilidade – 14)
Foto: Car – Rhonda Jenkins
Ser responsável é ser o quê? Hoje em dia, muitas vezes olho à volta e parece que a responsabilidade é algo que pertence aos OUTROS. Ou seja, se as colheitas correram mal, é responsabilidade do clima; dois carros bateram, é responsabilidade do outro condutor; chegou tarde ao emprego, é culpa do trânsito; não entregou os trabalhos de casa, foi o cão que comeu.
De uma forma ou de outra, vivemos uma era de desresponsabilização. A nossa vida, com altos e baixos, subidas e descidas agrestes e imprevistas, com surpresas ao virar de cada esquina, não está para os fraquinhos. Pelo menos para os fracos de espírito, entenda-se. E portanto, no meio de tanto solavanco, existe cada vez mais a disseminada tentação de tudo e todos culpar pelo que corre mal na existência de cada um, e nunca, mas mesmo nunca, virar o foco para nós mesmos.
E no entanto, ser responsáveis por nós mesmos é das dádivas mais bonitas que conquistamos na vida adulta. É assumirmos o controlo, tomarmos o leme e aceitarmos que se há acontecimentos que não podemos evitar, porém podemos sempre controlar como reagimos.
Ser responsável e alcançar os nossos objetivos é sempre motivo para orgulho e grandeza, algo que um mero navegar ao sabor dos ventos nunca permite.
Somos responsáveis, quer queiramos ou não e enfiar a cabeça na areia nunca leva a grandes resultados. Podemos viver anos, décadas até, se calhar a vida toda, a rejeitar responsabilidades. Todavia, a mim parece-me certo e seguro que, nos últimos momentos, haverá sempre a agonizante dúvida sobre como teriam sido as coisas se tivéssemos ousado ter a coragem de tudo enfrentar, de respirar fundo para recuperar forças numa ou outra vala mais inesperada e nunca ceder à tentação de deixar a direção do nosso destino a acontecimentos e pessoas que nos atropelam.
Sobretudo, tenhamos sempre ânimo e empenho para assumir a responsabilidade pelos nossos amores e afetos. Aos filhos, se os adoramos como se espera, que os ensinemos a pescar em vez de lhes metermos sempre o peixinho na boca, de preferência já sem espinhas; aos companheiros, que tenhamos o respeito de assumir as nossas falhas, perdoar as deles e conversar abertamente sobre tudo. À família em geral, que sejamos meigos e compreensivos, quer com aqueles em cujas veias corre o nosso sangue, como também com a família de amigos que vamos construindo ao longo dos anos.
Como dizia a raposa ao Principezinho de Saint-Exupery: cativar significa criar laços. “Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...”.
Se cativamos e nos deixamos cativar, temos que estar dispostos a assumir a responsabilidade por regar as flores com quem criamos esses laços, de as proteger sempre, de nunca nos demitirmos de as acompanhar e deixar crescer.
De resto, para mim, sempre que me faltam as forças e me sinto no fim da linha ou lá perto, anima-me olhar para aqueles que amo e repetir à exaustão o meu mantra pessoal. I’m the Captain of My Soul.
Laura Palmer