O ilusório poder (Poder – 14)
Seria uma reunião importante que poderia mudar a sua vida. Sabia que não poderia vacilar, não se mostrar inseguro, nem amedrontado. Tinha lido sobre o poder de uma primeira impressão e sabia reconhecer como ela poderia influenciar o sucesso ou não da reunião. Pensou como era admirável o cérebro ter a capacidade de construir uma imagem acerca de uma pessoa em segundos, apenas com uma imediata apreciação sobre a pessoa que tinha à sua frente. Observando apenas a forma como a pessoa surgia, se deslocava, como era a sua postura corporal, a sua fisionomia, o seu aspeto geral, mesmo antes da pessoa sequer pronunciar uma palavra! Tinha o seu discurso e argumentos bem estruturados e sabia que estava bem preparado. Mesmo assim, apesar da água quente que escorria sobre o seu corpo, sentiu um arrepio gélido percorrê-lo. Deixou-se estar mais uns minutos sob o chuveiro, refugiando-se no aconchegante calor que deslizava e o envolvia.
Os pensamentos invadiam-no. Compreendia que o impacto da primeira impressão seria o promotor da interação interpessoal e como seria difícil não comunicar, mesmo em silêncio. Todo o seu corpo emitiria sinais que iriam ser captados por todos os presentes na reunião. E continuou. Teria que preparar a sua entrada de modo triunfal. Todos os seus gestos, a postura, as expressões do seu rosto, o sorriso confiante e seguro, a sua voz, a irrepreensível aparência, seriam decisivos para a sua plateia ficar de imediato rendida numa primeira impressão. Vestiu o seu melhor fato, ajustou o nó da gravata que tinha minuciosamente elaborado na noite anterior. Cogitou como o poder que exercia num primeiro momento, poderia intimidar o outro, dando a ilusão de o estar a dominar. E lembrou-se do Haka, da dança típica e grito de guerra do povo Maori, para intimidar o adversário e se incentivar, exibindo a sua coragem, paixão e vigor.
Olhou o espelho, mirou-se de frente, depois de perfil, mirou um lado após o outro. Subitamente vê refletido no espelho o seu rosto delineado com desenhos Maoris, a língua de fora, as mãos a tremer, simbolizado o vento quente de verão… A imagem refletida ganha vida própria e numa dança brutal e viril, a Ka Mate, a cerimónia haka que celebra o triunfo da vida sobre a morte. Na sua cabeça ressoa o grito pujante “Ka Mate! Ka Mate! Ka Ora! Ka Ora!” (É a morte! É a morte! É a vida! É a vida!)
Sentiu-se revigorado e confiante. Com passadas potentes dirigiu-se à porta, abriu-a num movimento decidido e saiu poderoso com um sorriso esboçado no rosto.
Tayhta Visinho