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Mil Razões...

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

08
Nov15

Como se continua a não ter tempo? (Tempo – 17)

Publicado por Mil Razões...

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Foto: Girls With Masks – Lucy Toner

 

O tempo é algo que me tem atormentado bastante nos últimos dois anos. Quando estudava escritores na escola e alguns deles falavam sobre a imutabilidade do tempo e como a angústia da sua passagem se refletia na sua escrita, nunca percebia por que razão isso os afetava tanto! Agora percebo, porque também a mim o tempo me angustia! Não só a passagem do tempo mas também o que fazemos dele.

 

Há dois anos atrás a minha irmã morreu num acidente de carro e a forma como eu via o tempo alterou-se profundamente. Sempre tentei ter tempo para as pessoas de quem gosto e muitas vezes dava prioridade a isso em detrimento de outras coisas. Durante alguns anos não me importava de ter horários pequenos nas escolas, porque assim tinha tempo livre para me dedicar a estar com as pessoas.

Passava muito tempo com a minha irmã. Nos últimos anos ela tinha estado fora do Porto, a trabalhar, e só vinha a casa nos fins-de-semana. Então passava os fins-de-semana com ela e mesmo durante a semana, não estando fisicamente, falávamos muito ao telefone. De repente, esta pessoa deixou de estar. Acabou-se a sua presença. Acabou-se o tempo para ela e acabou-se o tempo com ela para mim.

Nos primeiros dias a pergunta que se impunha era “Como é que a vida continua depois disto?”. Nos dias seguintes a pergunta passou a ser “Como é que se continua a não ter tempo depois disto?”. E é algo a que não consigo responder. E isso angustia-me.

Como é que não se tem tempo se estamos vivos? Qualquer palavra pode ser a última, qualquer convite recusado pode ser o último, qualquer momento passado com amigos pode ser o último e ainda assim as pessoas continuam a não ter tempo! Como é que isto é possível?

 

Vivemos como imortais. Ela foi, nós não, por isso temos tempo. Amanhã dá. Para a semana ainda chega. Daqui a um mês vai muito a tempo. E se não for?

O tempo passado na companhia de quem mais gostamos é a coisa mais preciosa que temos na vida. É o tempo que passamos e aproveitamos com essas pessoas que atenua um pouco o sofrimento da perda. Enquanto cá esteve vivemos momentos juntos, partilhámos, falámos, rimos, chorámos, fizemos tudo. Quando a pessoa vai embora, a sensação de que aproveitámos todos os momentos que podíamos aproveitar é o que nos dá uma certa tranquilidade. “Enquanto cá esteve eu vivi e partilhei com ela a minha vida”. A tranquilidade vem daqui, a saudade de tudo o resto.

Tivemos as duas todo o tempo do mundo e agora como é que o mundo não tem tempo? Perante a morte e a ausência, como é que o mundo se atreve a não ter tempo? São perguntas, indagações que me inquietam e angustiam. O tempo foge de ter tempo!  

 

Patrícia Leitão

 

06
Nov15

Ladrões do tempo (Tempo – 16)

Publicado por Mil Razões...

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Foto: Woman Showing A Cell Phone – Petr Kratochvil

 

Corre, corre, tenho pressa, isto é para ontem, o dia devia ter 30 horas e mesmo assim…

Andamos todos numa correria desenfreada contra o tempo, temos horários de trabalho de 35 horas semanais, semana americana, vivemos a era da tecnologia. Temos telemóveis, tablets, computadores, ipod e inúmeros gadgets para nos facilitar a vida, para nos darem tempo.

Esperava-se com a revolução industrial nos finais do século XVIII, início do século XIX, que novos modelos de sociedade, mais humanistas e éticos, surgissem. Com a ajuda das máquinas a substituir a mão-de-obra humana, o ser humano trabalharia um número reduzido de horas diárias com vista à satisfação das necessidades básicas, assegurando a sua sobrevivência e bem-estar. Passaria a ter mais tempo disponível para se dedicar a atividades mais nobres como a filosofia, a ética, a cultura e a arte, promovendo assim a evolução do ser humano. Foi um sonho lindo que acabou! O lucro fácil e rápido, a ganância, o poder do dinheiro alterou o rumo da evolução da humanidade.

Tornámo-nos escravos de uma sociedade comandada pelo capital. Onde tempo é dinheiro. Tornámo-nos escravos do tempo, de um tempo que se esvai segundo a segundo, que se escapa irrecuperavelmente.

Atualmente, vivemos na era da globalização, estamos 24 horas por dia, 7 dias por semana totalmente comunicáveis, conetados em simultâneo num mundo global. Apesar desta globalização, nunca estivemos tão solitários e desligados.

Chegou o momento de pararmos e pensarmos o que estamos a fazer de nós. Chegou a hora de pormos limites aos ladrões do tempo.

É este o instante para nos religarmos, a nós próprios e à natureza que nos rodeia. E relembrarmos que somos apenas mais uma espécie dos seres vivos existentes neste planeta, simplesmente mais uma partícula do universo.

 

Tayhta Visinho

 

04
Nov15

Infinitamente e para sempre, sem o ser (Tempo – 15)

Publicado por Mil Razões...

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Foto: Glass Cup With Tea – George Hodan

 

Não chores porque acabou.

Daqui a pouco tempo, que te parecerá muitíssimo, hás de sorrir porque aconteceu.

Não te perguntes “porquê”. Não te questiones. Acima de tudo não te ponhas em causa.

Não interessa. Agora não interessa nada e a verdade é que, tu sabes, nem sempre existe um porquê. Quase nunca existe um porquê. São muitos, são-nos aos montes.

E no final, mesmo que sem fim, não interessam para nada.

Há histórias assim, sem fim. Há histórias que terminam antes do final. Porque o fim já era. Foi sendo, foi findando. Não tem de haver um ”The End”, como não tem que haver uma razão, agora. Porque em nada te acrescentaria ter uma justificação e tirar-te-ia mais e mais, a ti que hoje te sentes tão pouco ou nada, tão triste e tão pequenina.

Mas não és. És enorme. És grande na tua força. Mesmo que não a sintas agora e nem saibas onde a ir buscar.

Vais encontrá-la. “Deus não nos dá sofrimentos sem nos dar forças para os suportarmos”. Aguentamos tudo, amiga.

E tu, que és imensamente forte no teu interior, no teu coração e nos teus valores, como linda pessoa que és, vais ultrapassar isto. Vais ultrapassar-te, superar-te. Vais crescer e aprender e ser melhor, como sempre soubeste ser.

 

Um dia, quando tudo passar, nem vais acreditar que doeu tanto.

Mas dói. Eu sei que dói.

Dói infinitamente e para sempre, sem o ser.

Não chores.

Não chores na alma por já não teres lágrimas para chorar. Choraste demais. Demasiadas vezes. E foi nessas lágrimas, em que te desfizeste e acabaste, que foi nascendo o fim.

Era o fim e tu já sabias, sem o saber realmente.

O fim vive na história e é toda a história que faz o fim.

Findaste-te e finaste de todas as vezes que a angústia e a tristeza te escorreram pela cara, pelo que não estranhes se as lágrimas agora secaram.

Hão de voltar.

Serenamente, e quando menos esperares.

 

Até lá, tens o meu colo. E o meu abraço. E o meu mimo.

Dou-te o meu colinho, sentado no meu sofá, ou no teu, ou onde tu quiseres, mas onde sabes que podes deitar a cabeça e as lágrimas, sempre que te apetecer. Sem cerimónias ou vergonhas, que a amizade também se veste de intimidade, de mimo, de segredos. E de choros, de riso ou de infelicidade.

 

Faço-te um chá, amiga. E um cafuné. E só não canto para ti porque sabes que não sei cantar, mas encho-te de música se assim quiseres, ou então fico em silêncio a escutar a tua ausência de palavras. Ou um monte delas, se as quiser dizer e partilhar.

E passo contigo este tempo, amiga, esse tempo que mesmo não sendo muito, sei que vai custar (-te) muitíssimo a passar.

 

Joana Pouzada

 

02
Nov15

Duas semanas (Tempo - 14)

Publicado por Mil Razões...

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Foto: Tool Kit – Anna Langova

 

Há uma relação entre os tempos e o tempo. Ao que parece, temos hoje menos tempo do que noutros tempos tínhamos. Engendramos novas formas de vermos a nossa vida facilitada para, a seguir, a termos mais difícil que nunca. Queixamo-nos de que não temos tempo para nada, que o dia passa a correr, que estamos constantemente atrasados. Sacrificamos o sono, as refeições, a companhia dos amigos para podermos cumprir com a nossa agenda transbordante de compromissos. Nem calculadoras, nem telemóveis, nem computadores superpotentes nos livram da ideia de que estamos, quase todos, atrasados em pelo menos duas semanas em relação a tudo. Ah, duas semanas dariam agora tanto jeito!

Estamos tão mergulhados nos nossos afazeres que nem nos apercebemos que a idade vai passando. E a altura certa para fazermos certas coisas já lá vai há mais de duas semanas. É como se quiséssemos viver toda a vida num só dia, aqui e agora, condensadamente. É como se a vida se fizesse de coisas tão imediatas que só se destinassem a consumo. A contemplação, isto é, o ato de parar, sentir, interiorizar e refletir, é praticamente impossível nos dias que correm. A menos que o façamos em espaço próprio, climatizado, devidamente orientada por um instrutor credenciado, paguemos e possamos postá-la numa qualquer rede social.

O problema é não sabermos o que fazer ao certo com o tempo. É termos a sensação pecaminosa de que o tempo sem ocupação é tempo de vida desperdiçado, como se todos os segundos contassem.

Duas semanas dariam imenso jeito para fazermos tudo aquilo que está na prateleira à espera de tempo, como por exemplo telefonar ao amigo com quem já não falamos há mais de dois anos por falta de tempo, cortar as ervas daninhas que há mais de dois anos devoraram o jardim, ou devolver a chave-de-fendas ao vizinho que há mais de dois anos espera por ela e que, entretanto, optou por comprar um conjunto completo de chaves que servem para consertar tudo, poupar tempo e, ao mesmo tempo, porque a mala é pesada, não servem para nada.

Ter a vida em atraso permanente é consequência direta de duas condições: 1) criarmos mais necessidades do que aquelas para as quais teremos efetivo tempo de satisfazer e, 2) nem sempre fazemos o que temos que fazer na hora certa, até porque os nossos recursos energéticos são limitados e por vezes arreamos.

Com duas semanas atualizaríamos toda a vida. Mas no fim dessas, precisaríamos de outras duas.

 

Joel Cunha

 

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