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Mil Razões...

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

29
Abr15

Trilhando um caminho (Agora – 13)

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O que é o agora? O que resta do passado, ou a imagem daquilo que pode ser o futuro?

O que é o agora? O momento exato para sermos ou vivermos o que somos, ou o exato momento daquilo que fomos e que ainda podemos ser?...

O agora… o agora é o momento que vivemos e em que podemos ser mais e ir mais além. Alcançar o futuro? Sim… alcançar aquele futuro construído pelas nossas vivências do agora e pelas experiências de um antes que já passou.

O agora é o futuro do nosso passado e o passado de um futuro que só nós podemos traçar. O futuro que devemos delinear com a crença de que o agora é o momento de nos sobressairmos, de nos superarmos, de agarrarmos cada minuto como se fosse o último, de mais do que sobrevivermos… vivermos…

É neste agora, em que somos peões no xadrez da nossa própria vida, que cada passo em falso nos pode colocar em “cheque”… mas em tons de “mate”. Mate e a sua ausência de brilho… um brilho que não podemos permitir que se ausente, pois é este brilho que vive em cada nós, que ilumina a nossa caminhada no agora… caminhada recheada de pequenos passos que refletem as decisões que tomamos perante as pedras que se cruzam no nosso caminho. 

O que é o agora? O agora é a certeza de que tivemos um passado e de que caminhamos para um futuro… e o futuro do agora, só depende de como vivemos o presente, sem nos prendermos no passado.

 

P. Melo

 

27
Abr15

Mind full less (Agora - 12)

Publicado por Mil Razões...

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Obviamente, do que gostaria de falar era do MINDFULLNESS, um conceito amplamente divulgado na atualidade que se relaciona com a meditação, no sentido de procurar desenvolver uma ATENÇÃO PLENA no momento presente. Mas o FOCO que quero dar ao artigo prende-se com a ideia de MIND FULL LESS, ou a capacidade de nos desenvencilharmos de tudo o que não presta, ou das teias que os velhos pensamentos criaram, ou do que é inoportuno pensar em determinado momento. Precisamos, de certa forma, de conseguir desencadear, integralmente, um silêncio interior que se traduziria neste MIND FULL LESS, ou seja, termos cada vez menos coisas na mente. A simplicidade é irresistivelmente elegante. É como se estivéssemos a desenvolver uma Consciência Ecológica, uma vez que a ciência já admite que criamos realidades concretas, inclusive materializáveis, a partir dos nossos pensamentos. A prática do MINDFULLNESS é um caminho para esse objetivo.

Há uma frase muito interessante que fala da importância do AGORA: “Depressão é excesso de passado e ansiedade é excesso de futuro”, descortinando a relevância de uma educação do pensamento. Os pensamentos são as antecâmaras das emoções e a qualidade dos nossos pensamentos são o campo fértil para as emoções positivas e felicidade.

Não gosto de pensar no AGORA, meramente no sentido mindfullnessístico, ou eckharticista (referência ao autor Eckhart Tolle), pois se é certo que o autocontrolo, o qual começa com o domínio dos próprios pensamentos, pode ser exercitado com técnicas como Mindfullness (meditação), Concentração (Foco), Flow (imersão prazerosa numa atividade), para mencionar algumas, precisamos, igualmente, por um lado, popularizar a AÇÃO nas nossas vidas e, por outro, resgatar a genialidade potencial dos nossos atributos mentais.

O autocontrolo preserva-nos o equilíbrio emocional, mas é a racionalidade que dá o mote ao nosso jardim. Por isso, cultivemos AGORA o AGORA!

 

Marta Silva

 

24
Abr15

Sem camuflagem (Agora – 11)

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Hoje faço anos e não tenho nada para comemorar. Ando lixado, não durmo nada, sinto coisas estranhas e nem idade para isso tenho. O Zé ligou-me para me dar os parabéns, nesta "data mítica", e me persuadir a sair. Envelhecer, segundo ele, é um privilégio de poucos. Quando a minha falta de entusiasmo, finalmente, o desmotivou, ensaiou a voz mais doce que lhe foi possível e disparou, com a delicadeza de uma motosserra: “… bem, amigo, que queres que te diga… é bom, vais ver. Na verdade não podes evitar. A menos que morras, pois podes morrer entretanto, sim… Em todo o caso, se não acontecer – porra, Américo, que não te desejo a morte - para teres uma vida longa vais ter de envelhecer, meu caro amigo, não tens como evitar… e agora, olha que lindo, vais entrar na ternura dos quarenta. Tu anima-te! Tanta gente no mundo, Américo, que nem chega à tua idade e morre jovem. Ah pois!” Tanta frase sem sentido, tanto perdigoto acrobático, para me dar esta machadada. Mas que raio de ternura pensa ele que me traz a idade quando, até agora, não foi sequer meiga, quanto mais ternurenta ou colorida? E este discurso, quando não me apetece enfrentar o facto de que o chão me parece cada vez mais perto, só me faz mal. Não quero pensar nisto muito tempo, mas entro numa espiral que não consigo travar: durmo cada vez menos, como quando tenho tempo, fumo mais do que devo, vejo a morte em todo o lado, sinto mil maleitas e acontecem todo o género de merdas. Dou por mim acagaçado, num medo estranho de tanta coisa ao mesmo tempo mas, claro, ceguinho à minha quota-parte de responsabilidade em tudo isto. E culpo a vida, o carma, o excesso de trabalho, o chocolate, as azeitonas e as histórias infelizes. Porque é mais fácil. Porque é mais light.

Antigamente – muito antigamente mesmo – era mil vezes pior, não ligava puto. Eu queria lá saber se era preciso “comer a horas decentes e de forma adequada”, se era preciso “descansar e dormir”, privilegiando o “soninho da noite”, por mais que a minha mãe insistisse nisso. Na verdade, comer umas sandes, debicar umas bombas calóricas, dormir de dia (de pé, no autocarro, na aula, em gestos graciosos que aliavam a perícia de braço à capacidade de não tombar; no sofá, enquanto a mãe berrava da cozinha que só ter homens em casa era o mesmo que “ter estátuas que não servem para nada mas ainda exigem serviços gerais”), chegava perfeitamente. Não havia olheiras, cabeça pesada, consequências visíveis, a sensação de atropelamento em slow motion. A morte era uma coisa de velhinhos ou de gente muito doente, eu vendia saúde. Eu desafiava todas as leis do universo, pensava, nas minhas transgressões constantes. Nada me pegava, nem uma constipação.

Depois cresci. Um dia eu já sabia tudo o que tinha feito de errado. Tudo era claro como água. Eu sabia tudo acerca de tudo, em todo o momento. Tudo. Sem falsas modéstias. Revivi alguns momentos, muito mais tarde, em golfadas violentas, na vontade e na memória. Atormentei-me, durante muito tempo, por não ser capaz de parar ciclos dentro de mim. Por saber exatamente aquilo que fazia de errado e, ainda assim, andar em looping constante naquele filme. Rapidamente esgotei os argumentos e os recursos. Cansei-me de sonhar sem chão, de sorrir sem retorno, de acreditar que todos eram bons, ainda que me magoassem. Cansei-me da minha ingenuidade, da minha outra face sempre disponível, da estupidez que me impedia de me defender. Esgotei a esperança no dia seguinte, nos outros e nas circunstâncias. Tornei-me um crítico feroz de escolhas e almas, senti-me genuinamente senhor da razão e da moralidade. Ser um parvo acutilante foi o meu cartão-de-visita durante demasiado tempo. O dia em que, pela primeira vez, senti o mal que tinha feito a outro ser humano, com todas as minhas críticas insensatas, doeu profundamente. Percebi a rejeição dos outros, o seu escárnio, a força da maledicência. Lembrei o que havia sentido também. Doeu tanto que cheguei a ter saudades dos tempos em que dormia leve como um passarinho, com a alma isenta de responsabilidade. Em que coisa nenhuma beliscava a minha consciência.

Já não sou capaz. A minha consciência consegue agora atormentar-me visceralmente. Sucumbo, o meu corpo colapsa. Fico impossível de aturar – eu próprio, não me aturo - e sei, sem confessar a terceiros, que me arruíno neste fandango. Que sou o maior responsável por tudo isto. Quero muito saber quem sou, debaixo do medo e da culpa; quero ouvir a minha verdadeira voz mas sinto-me tão nu nessa escuta. Foi-se o tempo da imortalidade. O passado, sem legendas adulteradas, pode ser algo aterrador. Faz doer coisas que nem sabia existirem em mim. Sinto-me um destroço humano, uma criatura nascida já remendada que foi, estupidamente, resistindo a todas as vozes que sussurravam que não valia a pena. Não sei nada de nada. Desaprendo para poder aprender-me.

Sem que eu tivesse tempo de pestanejar, perdi algumas das pessoas mais importantes da minha existência e muita coisa mudou. A vida mostrou-me que a morte, afinal, não é só coisa de velhinhos e doentes. O tempo parece agora cada vez mais curto, sobretudo para carregar culpas que nada acrescentam mas que permanecem, nos sentidos, uma eternidade. Tenho tanto medo de envelhecer como de morrer. Viver entre estes dois mundos tira-me o ar, mas é a vida. Preciso de aprender a viver com tudo isto. A alternativa pesa-me como uma albarda e já não me apetece carregar esse adorno. A minha cegueira converteu-se numa consciência pesada que, aos poucos, se vai tornando mais leve. Aceito-a. Faz parte de mim. Faz de mim quem sou hoje. Mas dêem-me tempo, pela saudinha de qualquer coisa que vos apele à sensibilidade; não me venham com ternuras da idade e tal e tal. Deixem-me absorver a coisa toda antes de me lembrarem o que ainda não aceitei verdadeiramente. Estou a conhecer o tipo no espelho. Sem camuflagem, tem dias em que me mete medo. Hoje é um deles.

 

Alexandra Vaz

 

22
Abr15

Todo o lugar é aqui, todo o momento é agora (Agora – 10)

Publicado por Mil Razões...

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Enquanto lê este texto só pode ter 2 certezas: está vivo e… está a ler este texto! Tudo o resto são pressupostos. Não sabe como está a sua casa, o seu carro, ou até o planeta, apenas imagina que tudo está bem, exatamente como estava há uma hora atrás… mas a certeza não a poderá ter, pois tudo pode mudar num segundo.

Os grandes sábios dizem que o sofrimento reside no facto de não conseguirmos dominar a mente que vive ora no passado, ora no futuro, o que atrai, no primeiro caso, a depressão, e no segundo caso, a ansiedade.

Mas como é que se vive o Agora quando o padrão de viver fora do momento presente está instalado tão confortavelmente na nossa rotina? Não é fácil, mas é possível. A mente é, segundo os hindus, comparável com um macaco bêbado picado por escorpiões. Então o primeiro passo é dominar a mente. Como? Começando pelo corpo. Como dominar o mais subtil se não se domina o mais denso? O corpo é o princípio da mudança: mudar a alimentação, praticar exercício, parar. Ao mesmo tempo procurar não fazer mal aos outros, a nenhum ser vivo, viver em desapego, de forma simples e moderada, sentir contentamento pelo que se é, pelo que se tem e pelo que se faz, ter sabedoria nas palavras, confiar no Universo.

É fácil viver no presente? Talvez não… e que tal começar Agora?

 

Sara Almeida

 

20
Abr15

É viver um dia de cada vez (Agora – 9)

Publicado por Mil Razões...

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”É viver um dia de cada vez”. Cada vez mais me tenho apercebido que digo, com mais frequência, esta frase. “É viver um dia de cada vez”. Não fosse isto estranho, vindo de alguém que, como eu, vive pela ânsia do amanhã, mas também pelo querer do agora. Um turbilhão de angústia no agora, projetada também para o futuro. E o desfrute fica para trás. “É viver um dia de cada vez”. O agora determina um estado do tempo que nos faz pensar num antes e num depois. Isso condiciona-me. E o agora acaba por ser um não viver. O passado faz de mim o que sou hoje. Influencia, mas não determina o que serei amanhã. Esse amanhã que tanto me atormenta, pelo medo, pela incerteza. Ainda me dizia o meu pai, num dia destes: “Pensas e projetas demasiado o futuro”, no sentido em que me preocupo demais. Disse-o pela minha ansiedade, pela minha insegurança, creio eu. A frase ficou na minha mente. A verdade é que ele tem razão. O futuro não corre, a maior parte das vezes, como o planeado. E eu planeio demasiado: a fazer um ato, que determinará outro, que acaba por não ser determinado. E, nessa ânsia pelo futuro, o presente acaba por se esvair, sem ser aproveitado como deveria. “É viver um dia de cada vez”, amanhã logo se vê. Vou dizendo, mais para me convencer a mim própria, do que aplicado à realidade dos meus dias. Desfrutar do agora, sem a aflição de um ontem e de um amanhã. Mas, tratando-se de um instante, não é o agora uma sucessão de antes e, simultaneamente, de depois? O cheiro das flores que nos trazem memórias felizes, saborear o pão quentinho com manteiga, que acabou de sair, a pausa do cigarro, expelir o fumo devagarinho… O caminho é, cada vez mais, nesse sentido. O meu, pelo menos… Estou a aprender a viver nessa demanda. Futuro é algo lá longe, difícil de prever. O agora não é mais do que um instante entre aquilo que já não volta e o que há de vir. Nesse instante, vivamos!

 

“Quando, Lídia, vier o nosso Outono

Com o Inverno que há nele, reservemos

Um pensamento, não para a futura

Primavera, que é de outrem,

Nem para o Estio, de quem somos mortos,

Senão para o que fica do que passa –

O amarelo atual que as folhas vivem

E as torna diferentes.” Ricardo Reis

 

Sandra Sousa

 

17
Abr15

Viver no presente (Agora – 8)

Publicado por Mil Razões...

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Disseram-me, certa vez, que enquanto somos jovens vivemos muito no futuro. Planeamos, sonhamos, ambicionamos com paixão – e se há algo que magoa, eventualemente passará, pois acreditamos que o tempo avança. Acreditamos que o tempo avança pois vivemos no futuro, de tal forma que ele é, para nós, a utopia e o sonho; o mar infinito de possibilidades, o escape perfeito, a maior ilusão de felicidade. E então o futuro, a criação que na mente se desenrola, toma a forma da nossa realidade.

Disseram-me também que, ao envelhecermos, passamos a viver muito no passado. O explendor dos sonhos mais altos dissipou-se pelos sopros do tempo, então o êxtase da vida jaz nas memórias sublimes (e pela distância, geralmente mais belas). Por entre as experiências maravilhosas e as vivências apaixonantes o nosso pensamento vagueia – observa, sorri, e abraça com nostalgia. No passado vivemos com mais força; o passado é o refúgio, o além, a utopia.

Disseram-me ainda que, na verdade, no começo – na infância – vivemos primeiro no presente. Agora – é assim, para nós, cada momento. Quando estamos alegres sabêmo-lo pois nada mais interessa; quando estamos tristes vivêmo-lo pois a tristeza não é uma imposição do pensamento. Diria que, em certa medida, estamos inconscientemente mais conscientes de nós próprios – do nosso corpo e das nossas emoções – pois respondemos, sem medos, máscaras ou refúgios, ao que sentimos realmente, em cada momento. Respondemos ao presente. Respondemos ao agora. Pois é agora, sempre.

Onde está a autêntica felicidade por entre as lembranças do passado? Nos momentos em que embrenhávamos em novas experiências e nos abríamos ao presente. Qual a forma dos desejos para planos do futuro? Uma colagem de instantes perfeitos, sensações únicas, sentimentos estonteantes. Por um momento, sem viver no pensamento. Por um instante, aquietando o tempo. Agora.

Pela imaginação, os sonhos podem frequentemente parecer perfeitos. Pela distância intransponível, o nosso olhar vai apurando a perfeição do que guardamos na memória. Mas viver no presente é como saltar em queda-livre: quando só o agora importa, o corpo vibra e o espírito renasce. O toque mais doce e irresistível de viver no presente? A sua intensidade poderá ultrapassar em total grandeza qualquer utópico plano para o futuro, ou qualquer memória embelezada do passado. O presente é grande. O agora é grande. E se está tão próximo, por que o fazemos tão distante?

 

Isabel Pinto

 

15
Abr15

Carpe diem (Agora - 7)

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Goza, aproveita o teu dia!

Sem dúvidas, parece não haver margem para duas opiniões: o dia de hoje é singular, na sucessão dos dias é irrepetível, único. Seja a ocasião em que vivemos algo de memorável, quando ocorre aquilo a que chamamos um acontecimento, programado e antecipado com toda a atenção e ansiedade, seja só mais um dia que liga ontem a amanhã.

Assim, mais do que um direito, é como que um dever tirar todo o partido do dia de hoje, da vida agora. Entre um passado que já foi e um amanhã que nem sei se vai acontecer, o que interessa é o momento, eu, agora.

O dia de hoje é tudo, mas como é que o mesmo “agora” pode ser tudo no momento para amanhã já não importar para nada? É lugar-comum mas há razão para dizer que os extremos se tocam. O agora é um momento mas não existe isolado, não é estanque do que aconteceu, do que fiz ou não fiz ontem, anteontem; de como reagi ao que me fizeram ou deixaram de fazer. E esta sucessão de momentos vividos determina, em grande parte, em que medida gozarei, conseguirei tirar partido do hoje que virá amanhã...

O caminho é complexo; que bom, há opções a tomar, escolhas a fazer, vale a pena gozar o dia, assim como investir no amanhã.

O dia de hoje é que é importante, mas as minhas decisões de ontem continuam a fazer parte de mim, não passam a ser lixo, algo desprezível. Serão a minha mola ou a minha carga.

Então, posso tentar fazer da vida um prazer, sem ser subjugado pelo imediatismo, nem pela culpa, sem perder a memória, acreditando que o meu futuro também depende de mim.

Bom dia!

 

Jorge Saraiva

 

13
Abr15

Que tal celebrar a vida? (Agora – 6)

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Sempre ocupada, de um lado para o outro. Às vezes parecia que fazia o trabalho de uma pensão quando, no fundo, era só uma casa. Uma simples casa. Mas a imperfeição não morava ali. Ele sempre suspeitara que, no meio dessa perfeição, não estava em causa o sujo ou o limpo. O organizado e o desorganizado. Havia mais. Uma obsessão. Um controlo sobre o caos. Às vezes entristecia-se porque as coisas lhe tomavam mais valor do que ele próprio. Pelo menos parecia. Outras vezes nem queria saber. Deixava para lá. Mas desde que crescera percebera que não havia espaço como houvera na infância. Esse espaço fora ocupado pela perfeição. Pelo “não tenho tempo”. Por aquela obsessão do “tem de ser feito”.

- Passas a vida preocupada com limpar e arrumar. Não podes relaxar um pouco?

- As coisas não aparecem feitas!

- Não te digo para deixares de fazer. Digo para não deixares de fazer o resto por causa disso.

- Que resto?

- Olha, sentar-te um pouco. Ter uma conversa na varanda. Sei lá! Darmos um passeio. Há tanto tempo que não damos um passeio. Lembras-te de quando eu era pequeno e íamos todos ao parque dos baloiços?

- Eu tenho lá tempo para passeios!! Isso era quando eras pequeno!

- O que mudou?

- Vais dizer que ainda gostas de baloiços?

- Gosto. Mas não é essa a questão. Era a celebração. A alegria.

- E o que queres celebrar?

- Não sei, mãe. Que tal a vida?

- Oh, lá vens tu com essas conversas e eu tenho mais que fazer!

- Mais que fazer do que celebrar a vida?

- Tu sabes o que quero dizer!

- Queres ajuda?

- Não, não. Eu faço sozinha.

- Mas se te ajudar tens mais tempo, não?

- Eu gosto de fazer as coisas à minha maneira, do meu jeito. Tu não saberias fazê-lo.

- Porque não me ensinas?

- Olha, deixa estar. Vai dar uma volta.

- Só não vens porque, na verdade, não queres, mãe. Parece que só isto te dá prazer. Mas nunca te vejo com um sorriso na cara.

- Tenho muito que fazer. Já sabes, meu filho. Não insistas.

- Sim, já sei. Eu vou. Por agora vou sem ti. Pode ser que, da próxima vez, nos juntemos finalmente num passeio por aí, como nos tempos passados.

- Sim, meu filho, pode ser. Não me leves a mal.

- Não, mãe. Mas tenho pena que te faças crer que é isto que te basta. Ter a casa arrumada. Como se a vida fosse, assim, uma prateleira de exibição.

Saiu. Olhou a casa, impecável. Sentiu-se triste, embora conformado.

 

Ainda estava ela a verificar se as cortinas estavam corridas, a campainha soa, destoando do silêncio da casa.

- Será que o rapaz se esqueceu das chaves? Que estranho.

Abriu a porta. Duas figuras da autoridade aguardavam.

- Sim? Boa noite.

- Boa noite. É a senhora Margarida?

- Sim, sou eu. Qual é o assunto?

- Lamentamos informar, mas houve um acidente com o seu filho.

- Um acidente? Como assim? Estremeceu por dentro, não acreditando no que lhe diziam.

- Infelizmente foi um acidente muito grave. Lamento muito dar-lhe esta notícia, mas o seu filho não resistiu aos ferimentos. Lamento muito.

Nessa noite, a casa foi caos. Não havia mais agora. Muito menos, próxima vez.

 

Cecília Pinto

 

10
Abr15

Sopro de bolas de sabão (Agora – 5)

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No vasto Universo em que navegamos desde o sopro da Criação, diverte-se agora a minha Alma com bolas de sabão.

E neste contexto Humano em que no momento habito, percorro o tempo ilusório adaptando-me à realidade não existencial.

Procuro a criança em mim que há uma eternidade que não a sinto, com vestes e mais vestes vou atuando sem recordar a leveza e a libertação de ser menina.

As raízes de tristeza e sofrimento de outrora, acompanham-me no único percurso real onde vou experienciando a dualidade.

Já não sabendo o que é ser feliz com os entretenimentos humanos, limito-me a uma existência solitária em que o caminho só pode ser um, a união com o Todo. E é no Agora, no movimento de respiração, consciente da Divina Presença que sou, que reencontro a Paz que tudo reflete à dimensão da proporção do Amor, que tenho a capacidade de vibrar.

A compreensão deste Puro sentimento, livre de qualquer tipo de apego, livre de qualquer pensamento mundano, livre das fraquezas próprias da raça, chegarei sem corpo e sem teias... Das correntes me libertarei com a leveza do significado de quem somos e para onde vamos.

O objetivo será alcançado e flutuarei na imensidão de lençóis vibracionais, tão sublimes e celestes, que habitam a eternidade.

 

Joana Pereira

 

08
Abr15

Tudo acontece por acaso (Agora – 4)

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Certo dia, quando me levantei pronta para mais um dia repleto de boas emoções, que eu sabia que me esperavam, desejei que esse dia ficasse marcado na minha história por ser um bom dia.

Ao final do dia, quando me deitei, deitei-me a chorar, de olhos bem abertos, em pânico pelas notícias que me deram sobre o futuro.

Finalmente adormeci… Quando acordei no dia seguinte, os olhos estavam inchados, escuros e com tanta incerteza no futuro.

Dia após dia, esperei serenamente pela data que me deram como ponto de referência. Até esse dia não poderia fazer mais nada senão esperar. Nada… Nesses dias só poderia mesmo deitar-me e acordar, dia após dia…

Esses dias custaram mas, gradualmente, fui-me apercebendo que enquanto esperava vivia um presente que me estava a fazer refletir, projetar, sonhar…

Em vez de custarem, e com a data cada vez mais próxima, os dias foram sendo cada vez mais intensos mesmo sem sair do meu sofá.

O dia chegou e com ele as boas notícias e o sentimento de missão cumprida.

Mas afinal nada terminou nesse dia, apenas começou!

A data limite foi ultrapassada, uma grande vitória foi conseguida, mas nada se resolveu.

Continuo à espera de outro dia, com projetos e sonhos, é verdade, mas continuo à espera…

Com esta espera fiquei a dar mais valor ao momento em que esperava, ao agora.

Para que me serve pensar num futuro? Para poder projetar e ter sonhos.

Para que me serve pensar no passado? Para me lembrar dos erros feitos e em tudo o que de bom aconteceu e ficar feliz.

Para que me serve pensar no presente, no agora? Para viver!

Agora que continuo à espera, não de uma data, mas de um acontecimento que me trará muitos outros, penso que estamos constantemente à espera e por vezes esquecemos de viver.

Tentarei viver o que tenho agora, pois o que eu estou à espera pode nem acontecer ou não da forma como eu idealizei. O que manda é o acaso, não se nos esforçamos mais ou menos. É certo que pode influenciar e muito, mas o que tiver que acontecer acontecerá sempre e nesse dia pensamos no agora e não no que já passámos ou idealizámos.

 

Sónia Abrantes

 

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