Liberto do calvário (Liberdade – 9)
A LIBERDADE é um estado transitório que medeia o indivíduo e suas necessidades face ao quadro de soluções acessíveis no contexto, mediante regras instaladas para regular a sua inserção e atuação. Impera que, sendo a liberdade uma dádiva de Deus, em condições normais adquire-se com a vida e abandona-se com a morte.
Ser livre é ter a oportunidade de se libertar da dependência ideológica que o funcionalismo sistémico impõe de forma rotineira em sistema de vasos comunicantes, quando o indivíduo encontra-se privado de ser ou de estar independente para agir em sua livre consciência e espontânea consciência.
No plano operacional, a liberdade é um instrumento bélico que de acordo com o seu uso pode contribuir para a geração de valor e benefícios próprios, a liberdade marginal gera externalidades sempre que a liberdade de uns afeta a dos outros numa vivência em sociedade.
O elemento crítico que contribui para a convivência de liberdades individuais sem criar interferência no equilíbrio relacional, diminutiva ou aumentativa, é o bom senso, que sugere o respeito mútuo, aceitação das diferenças, autodomínio e auto-superação.
A liberdade é assim um bem em constante mutação, no ciclo de vida do Homem, ocorre uma sucessão de liberdades que se abdicam para delas conquistarem-se outras. A liberdade elementar trazida pela vida é um bem inalienável, um ativo em estado bruto, a sua aplicação criteriosa e em condições favoráveis na satisfação de necessidades e consecução de objetivos próprios pode torná-lo um ativo único.
Das várias privações que se podem arrolar, eventualmente, a ideológica e de expressão, sejam as mais incisivas. Se o pressuposto primário da filosofia é a capacidade cognitiva do Homem, René Descartes na sua célere aceção Cogito, ergo sum, lançava as bases para o papel da filosofia enquanto ciência mãe, a necessidade da crítica e autocrítica, o questionamento contínuo como primazia para a renovação do Homem. O saber pelo saber e pelo questionamento são métodos científicos válidos para a aprendizagem contínua, um verdadeiro bem ou recurso livre.
Apesar da virilidade do conhecimento percecionada pela rigidez das fontes de acesso a informação serem limitadas e nem sempre acessíveis, entenda-se que a privação do conhecimento não é em si um destino do Homem, este pode e deve-se valer de sua humildade e sede do saber para superar barreiras impostas ao alcance de sua própria liberdade. A luta pela independência é secular e legitima a reivindicação dos direitos que a subjugação pode condicionar.
António Sendi