Cara ou coroa (Risco – 7)
O risco é daqueles temas que todos têm algo a dizer, uma história ou experiência a contar, por ser algo tão propalado e presente nas nossas vidas. O risco ultrapassa qualquer ciência, constitui sim um ato ou efeito, ou antes um fator propício a qualquer ato. Todas as áreas de conhecimento ocupam-se literalmente de avaliar o risco específico inerente a sua operação, umas de forma mais proeminente que as outras. A gestão não é exceção, e aqui encontram-se eventualmente boas razões para se acautelar em torno do risco.
É frequente associar-se o risco a ocorrência de eventos com impacto negativo, porém o risco na sua aceção geral é a probabilidade de ocorrência de eventos incertos, quer sejam negativos ou positivos particularmente no campo de gestão. É preocupante analisar-se o risco na medida em que uma adequada planificação implica a previsão e mensuração do impacto de sua ocorrência, o que dá lugar à fase de controlo que existe precisamente para avaliar o desempenho pós-facto numa base analógica para apurarem-se desvios, caso ocorram, e perceber a sua ocorrência. A existência de um desvio não é em si o fim da gestão, critério suficiente para relegar do campo de ciência para de arte, mas o início da atividade de gestão e a aceitação do meio externo como uma esfera assente numa plataforma de base inclinada.
Numa outra dimensão entende-se o risco como sendo o grau superlativo absoluto sintético de ser empreendedor: praticar alguma atividade económica no sector primário de forma artesanal com recurso à sua arte, como é o caso da agricultura de subsistência. Eventualmente, se não fosse de subsistência não seria de risco superlativo pois apesar de a morte ser o evento mais certo ninguém deseja escalonar como um cenário prioritário. Qualquer ser humano no seu juízo normal prefere ser punido ou censurado pelo insucesso com impacto no desperdício de recursos de ordem material e/ou financeiro do que de natureza humana. Essa segregação natural na hierarquia dos danos causados pelos impactos negativos tem a sua ordem lógica e cronológica assente em valores da natureza humana.
O caso vertente do empreendedor, sendo a pessoa detentora de uma ideia e que pretente através dela desenvolver um produto ou serviço útil e inovador com vista a transferir valor ao mercado potencial, é exemplo de atitude pró-risco. Para tanto, ele opta por assumir o risco potencial e nunca o contrário, no momento que o fizer estará a dar as costas à conquista do sucesso. Não deixa de ser menos empreendedor quem tiver outra atitude face do risco, quer seja através de transferência, aceitação, ou mitigação do risco. Para a adoção de uma dessas atitudes ou estratégias face ao risco de forma premeditada, implica mais do que ser empreendedor munir-se de informação, dominar algumas ferramentas de gestão e saber o timming certo para atuar. Sobre a informação importa frisar que, quem detém informação privilegiada está um passo à frente de beneficiar-se do risco relativamente aos seus concorrentes em situação desprivilegiada.
Voltando-se ao cerne do artigo, risco, confunde-se com a música que anima uma festa, tais ondas do mar de amplitude e altitudes variáveis, dependendo das condições climatéricas que embalam o barco artesanal de navegação na sua missão quotidiana. O risco foi assim o ímpeto da missão dos navegadores e exploradores ao descobrimento.
O entendimento de cada um sobre o risco depende do agregado de suas experiências, aspirações, expetativas e conhecimento acumulado, rotulando suas convicções em tendências pessimistas ou otimistas no plano dos possíveis cenários extremistas. Ali, o risco situa-se na diagonal, cortando os campos como uma linha que separa a cara da coroa.
António Sendi (articulista convidado)