Longe de mim, longe do mundo (Estar longe – 13)
Fecho a porta de casa, abro a porta para a solidão… Tanto mundo lá fora, tantas vidas… Rodeada por cima, por baixo e pelos lados de lares recheados de gritos, choros e risos. Borbulham durante breves momentos… começam a esmorecer até se desligarem pelas longas horas da noite… Horas que demoram séculos.
E procuro-me… Onde está aquela menina repleta de sonhos, cheia de força e de vida?
Via-me desde pequenina com família grande, casa cheia, pequenitos a correr, a pular, e eu a tratar de tudo, da casa, das crianças, da comida…
Sonhos tão cheios de vida e agora… vida tão cheia de nada…
Como vim parar a esta casa tão vazia? Como me tornei neste monstro tão cheio de medos, de ansiedades, de estados depressivos? Porquê eu? E onde é que eu errei? Serei assim tão péssima pessoa para merecer ficar sozinha?
Ligo a televisão: as novelas distraem-me… Ainda bem que tenho tantos canais para me absorver!… e as horas vão passando… e por breves momentos abstraio-me de mim para “viver” a vida dos outros… A televisão vai cansando…
Ligo para a “Voz de Apoio”. Uma voz amiga e interessada que me ouve os lamentos e acompanha-me durante um tempo… Tenta ajudar-me… mas eu nem quero pensar…
Ligo o computador: e-mails só de forwards, no facebook nada de novo e ninguém com quem conversar… Olha! Está aqui alguém!… Já não falo com esta pessoa há tanto tempo!… Mas não tem mal, vou falar com ela para não ficar aqui sozinha!
Um pouco de conversa fora… E… todos se foram…
Ai… ainda 1 da manhã!… Faltam tantas horas para tornar a sair desta casa… Quero dormir… Mas tenho tanto medo… e tanto frio…
Volto a mim e perco-me outra vez na solidão, nos sonhos de quem eu gostava de ter sido e não sou, no oposto completo que eu recebo e enfrento diariamente…
Não sou tão má pessoa assim, pois não? E porque não tenho ninguém? Porque estou tão longe de mim e tão longe do mundo?
Ana Lua