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Mil Razões...

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

30
Mar12

O comando de Elis (Mudança – 13)

Publicado por Mil Razões...

 

Elisabete, Elis para a família, nasceu há quarenta e cinco anos numa aldeia alentejana. Filha única de um coronel do exército, foi educada com muitos cuidados e carinhos pelos pais, pelos avós e pelas tias, irmãs de seu pai, todas solteiras. O monte, com os seus muitos hectares, onde em criança começou a descobrir o mundo, chegou até à sua posse por herança, a partir dos pais de sua mãe. Mas do monte se afastou ao ir para Lisboa, para estudar, para casar, para viver o dia-a-dia, até hoje. E sempre ao monte voltou, pelas tias, pela terra, pela aldeia, por se sentir parte integrante de tudo aquilo, por querer continuar, sempre, a ser dali, vivendo o compromisso de cuidar de tudo aquilo que recebeu.

 

Em Lisboa as coisas não lhe correram tão bem como desejou, como sonhou. Do casamento sobra-lhe uma criatura com o título de marido, odiado, que Elis quer ver e sentir como um estranho que a maltrata, que teima em continuar ali em casa, ao pé dela, a cuidar de tudo, sempre a viver à conta dela. O ódio invade Elis. Sobra-lhe também a descendência: três filhos, os dois mais velhos fora de casa, esforçando-se para ignorar Elis, o mais novo ainda em casa, à espera da sua oportunidade para imitar os irmãos e distanciar-se. Onde errou? Os cuidados de Elis e o seu amor pelos moços, lavrado em medos, em ansiedades e em inúmeras horas sem dormir, estão agora convertidos em silêncios, em fugas, em distância e alheamento, para Elis agravados pela proximidade ao pai, pela cumplicidade com ele. O ciúme invade Elis.

 

Elis sofre por viver assim, sofre por viver com um homem do qual já nem tem memória de gostar, sofre por não conseguir aproximar-se dos filhos e não entender porquê. Já lhe falaram em mudar de vida, em separação, em divórcio, em procurar os filhos mas vendo-os e respeitando-os como adultos, procurando redescobri-los. Mas nada disto tem sentido para Elis. Elis precisa de sentir que tem o comando, que é respeitada, incontestada e adorada como era em criança, tratada como uma princesa, no seu principado intocável, do qual não abdica.

 

Tomada pelo ódio e pelo ciúme, presa num passado que não mais se repetirá, está disposta a sofrer para além dos limites. Recusa-se a mudar. Mudança é palavra que não existe no seu dicionário.

 

Fernando Couto

 

27
Mar12

Carrossel (Mudança – 12)

Publicado por Mil Razões...

 

Começo pelo final: estou feliz. Demorei a chegar aqui, tive estádios intermédios, tive momentos muito, muito maus. Mas hoje, agora, estou feliz. E este foi o caminho que percorri…

 

Desde que terminei o meu curso superior trabalhei sempre na mesma área: comunicação, marketing, publicidade. Em onze anos de vida profissional estive desempregada três semanas. Andei por várias agências de comunicação até que, há seis anos, cheguei à agência onde trabalho. Quando comecei a trabalhar aqui era uma miúda solteira, sem filhos e sem responsabilidades de maior. Tinha tempo, estava cheia de vontade de aprender, de trabalhar e de evoluir. Dois anos depois engravidei e tive uma filha. Deixei de ser responsável apenas por mim para passar a ser responsável por uma bebé e por uma famíliaem formação. Aprendia multiplicar minutos e a fazer esticar as horas. Continuei a trabalhar como sempre, a fazer viagens ao estrangeiro (a trabalho), a levar trabalho para casa. Continuei a adorar o que faço e a empresa onde trabalho.

 

Mas trabalho num mercado que foi muito afetado pela crise e a empresa começou a ressentir-se disso. Entretanto tive mais um filho e, durante a licença de maternidade, aprendi a costurar: comecei a fazer peças, a vendê-las e a ter muitas, muitas encomendas. Quando regressei ao trabalho senti que precisava de mais estabilidade financeira e fui à procura dela. Encontrei outro emprego muito rapidamente. Mudei de empresa mas não de funções (continuei a fazer o mesmo que fazia antes, num universo completamente diferente). Correu pessimamente: encontrei um ambiente de trabalho péssimo, uma filosofia empresarial carnívora e não gostei do que vi. Não me adaptei, andei tristíssima durante o tempo que lá estive. Mas como acredito que quem está mal muda-se, saí desta nova empresa ao fim de apenas 15 dias de trabalho. Falei com os meus ex-patrões e voltei à empresa, mas num regime diferente: teletrabalho, em part-time. Ganho muito menos dinheiro, mas trabalhoem casa. Não tenho horários, não tenho que gastar horas em trajetos e trabalho no sítio mais confortável do mundo.

 

Mas não é fácil. Obriga a muita disciplina e força de vontade porque as solicitações extra-trabalho são imensas. Tenho que ser extremamente organizada para conseguir chegar a todo o lado e fazer tudo o que me proponho fazer. Mas é ótimo poder estar onde quero, ser dona do meu tempo e fazer as coisas ao meu ritmo. Tem um lado mau: a solidão que por vezes se instala, mas que é fácil de combater com uma pausa para café.

 

Portanto, passei de uma vida com muita correria para estar em muitos sítios, para uma vida de muita correria para conseguir fazer tudo o que quero. Deixei de trabalhar só para terceiros e passei a ter um negócio meu, com tudo o que isso implica. O saldo é claramente positivo: sinto-me realizada enquanto mãe, mulher e profissional. E isso é tudo o que posso querer!

 

Marianne (articulista convidada)

 

23
Mar12

A mudança. Objetivos de vida! (Mudança – 11)

Publicado por Mil Razões...

 

Há muitos aspetos associados ao desenvolvimento e à mudança durante a infância, adolescência e idade adulta. A quem devemos atribuir responsabilidades? À natureza ou ao ambiente? Apesar da grande variabilidade individual, das circunstâncias ambientais e das realizações pessoais, as questões fundamentais parecem mover-se sempre em torno dos

fatores BioPsicoSocial e Espiritual.


De fato a adaptação, a mudança e o desenvolvimento verificam-se ao longo da vida e, de modo algum para quando atingimos a idade adulta.

 

Prossigamos agora com um exercício bastante conhecido. Independentemente da sua idade imagine-se daqui a dez anos. Terá a sua vida progredido? Terá atingido os seus objetivos? Qual será o estado do seu corpo e como se sentirá dentro dele? Onde estará a viver e com quem? Será que as suas capacidades cognitivas e laborais terão melhorado ou ter-se-ão “lentificado”? E financeiramente qual será a sua situação? Como estarão a ser ocupados os seus tempos livres? Ter-se-á adaptado a novas responsabilidades, por exemplo no trabalho ou em casa? Perspetiva mudanças ao nível de como os outros o percecionam ou tratam? Como se sentirá emocionalmente? Terá ainda consigo todos aqueles que ama?  

 

Se ao refletirmos nas mudanças em dez anos já parece ser um exercício algo difícil imagine-se daqui por 20 ou 30 anos.


Mas até que ponto é que as mudanças ao longo da vida se devem a modificações intrínsecas, fundamentais no organismo, a acumulação de experiências em ambientes complexos, ou a pressões sociais e comunitárias? Será que as mudanças são contínuas e graduais, ou são marcadas por etapas principais?

 

Parece claro e evidente que quando pensamos no nosso próprio futuro a mudança aparece de forma inevitável.

 

O percurso da sua vida é organizado e planeado, e será que segue esse plano de forma intrépida, ou vê-o como aberto às decisões de outros, ou à mercê do acaso? Anseia pela mudança, pela maturidade inerente à idade, ou essa perspetiva causa-lhe ansiedade e assusta-o? E, finalmente, será que considera estes aspetos importantes o suficiente para delinear, agora, alguns objetivos de vida?

 

Ana Teixeira

 

20
Mar12

Céu novo (Mudança – 10)

Publicado por Mil Razões...

 

O céu parecia-lhe diferente enquanto olhava pela janela num misto de tristeza e emoção. Era, contudo, diferente aquele céu, aquelas gentes, aquelas árvores.

Pela casa soavam as passadas apressadas de uma criança que descobre em cada recanto de um novo lar, a magia de um esconderijo.

- Ó mãe, já viste lá fora?! – Gritava.

- Há vaquinhas lá ao fundo!

Era uma aventura para aquela criança urbana, a quietude do campo. Sua mãe trazia um rosto carregado, de quem traz às costas, ao peito, à cabeça, no coração, um enorme baú de emoções reprimidas, memórias insanas, toda uma vida arrastada por correntes aos pés. Porém, naquele novo céu, que lhe parecia maior, porque prédios não o emolduravam mais, sentiu que poderia haver alguma esperança.

- Filha, vem ajudar a mãe a arrumar as malas – pediu.

 

Assentaram que nem uma luva na casa nova que as acolhera. A criança descobria todos os dias uma nova coisa que a Natureza tinha para lhe mostrar. Descobria também que o dia-a-dia, tinha mais calmaria, mais risos, gargalhadas, menos confusões naquele sítio.

A mãe acordava por vezes sobressaltada à noite, por um ruído. Havia tantos novos ruídos. Ruídos diferentes, porém. Ao início custava-lhe a adormecer. O baú das memórias assustava-a. Sabia que não estava desamparada, não estava só. Tinha gente por perto. Gente boa. Mas aquelas memórias enfiavam-se-lhe nos sonhos. Malditas!

- Maldito! – Pensou, enquanto rangia os dentes.

Recordava tantas vezes o dia em que decidira não mais voltar. Não voltar mais àquela vida de dor, sofrimento, vergonha. Vida de medo. Tinha sido precisa tanta coragem para deixar tudo para trás. Todos. Todas as suas coisas.

- Que vida injusta, Senhor. Eu! Eu é que tenho de mudar!!?? Nada fiz de mal, e aqui estou eu refugiada de todo o meu mundo de outrora – revoltava-se.

Perdera tanto. Mas não perdera a vida, tantas vezes ameaçada, nem perdera a filha, que sentia mais feliz.

- Desgraçado! – Sussurrava por entre lágrimas. E ainda pensei, que mudarias! – Pensou para si.

 

Os dias foram passando debaixo do céu novo. Os ruídos tornaram-se naturais, já não assustavam.

A criança brincava na erva, debaixo do castanheiro, como se sempre tivesse sido ali a sua casa.

Brincava com os seus amigos imaginários, podia ser tudo o que quisesse!

Viu a mãe a aproximar-se, chamou-a, para ao pé de si e disse:

- Mamã, quando for grande vou ser bonita como tu! E vou ter um namorado! – Exclamou!

- Ah, sim? – Retorquiu a mãe.

- Sim! Vai ser bonito também! – Apressou-se a afirmar.

- E que mais? – Espicaçou a mãe.

- Não vai ser como o pai – disse a criança enquanto passava os olhos pela relva verdejante.

A mãe sorriu, sem conseguir disfarçar a lágrima que se evadia.

 

Cecília Pinto

 

16
Mar12

Inquietude (Mudança - 9)

Publicado por Mil Razões...

 

Já ninguém quer apostar na continuidade. A palavra de ordem é mudar, mudar a todo o custo. Nem nos perguntamos se estamos bem como estamos, o que conta é que já estamos assim há demasiado tempo e está na altura de mudar.

Mudamos de guarda-roupa em cada estação, mudamos o corte de cabelo, mudamos de namorado, mudamos de casa, de carro, de ginásio e de dieta. Mudamos de governo, de emprego e de amigos do café. Mudamos de perfume e de gel de banho. Mudamos de supermercado e de lugar de estacionamento. Se pudéssemos, mudávamos também de família, por algum tempo que fosse, apenas para ver que diferente seria.

Mudamos de operador de telemóvel, mudamos a marca de detergente para a máquina, tentamos o descafeinado para logo voltar ao café. Não estamos bem, precisamos de mudar. Mudamos tudo, menos nós próprios. Nós continuamos exactamente iguais, na procura incessante da mudança.

Só não mudamos de planeta, porque ainda não possuímos a tecnologia. Mas em contrapartida mudámos o planeta e agora queremos mudá-lo de novo.

A sorte é que a lua vai mudando de fase e a primavera vai sucedendo ao inverno. Mas seria talvez mais divertido se pudéssemos mudar a alternância das estações do ano. Pôr o inverno logo a seguir ao verão, sem passar pelo outono.

“Já há muito tempo que não chove”, lamentam-se alguns. “Já chove há três dias. Já ninguém aguenta a chuva.”

Já ninguém aguenta nada. Já não nos aguentamos a nós próprios.

 

Teresa Moura (articulista convidada)

 

13
Mar12

Uma mão cheia de nada (Mudança – 8)

Publicado por Mil Razões...

 

Não ando bem. As últimas notícias que recebi trazem-me uma apreensão tal que me desgasta. Nestas últimas catorze noites durmo, promiscuamente, com duas companhias pesadas e negativas: o medo e a ansiedade. Combato-as todas as manhãs, e durante o dia, quase nem as sinto por perto mas, assim que me deito, sinto-as aninharem-se em mim e perturbarem-me irremediavelmente o sono. Será que há um limite de influência negativa que posso sofrer? Quero pensar com clareza, lembrar-me onde guardei o escafandro antes da submersão total mas, não dormir, não tem ajudado nadinha. Afasto-me daqueles que amo para não os afetar com esta negatividade que se abateu sobre mim, não consigo suportar a tristeza nos seus olhos, o ar aflito. Choro muito, mais do que pensava poder chorar. Canso-me de mim própria e deste meu estado depressivo, não me reconheço neste semblante sempre molhado. Evito as perguntas diretas, evito o sorriso que me penetre a alma e a desnude. Perguntam-me, “Como estás?”. Se tudo corre bem, a pergunta assume um caráter retórico e, quem mo perguntou, não fica tempo suficiente para que eu responda. Respiro de alívio e sigo o meu caminho. Mas outras vezes, quem pergunta quer realmente saber como estou. Respondo, regra geral, “estou bem”. Dizer que não estou, significaria explicar porquê e não me apetece nada desfiar o rosário das minhas lamentações. Não posso fazê-lo sem sucumbir às lágrimas e, nesse processo, sentir-me a coisinha mais frágil do mundo.

Ontem, um dia de sombra velada na alma, fui visitada por dois primos que têm sido amigos na jornada da vida. Não há barreiras na transparência da amizade genuína. Não há filtro que me permita fingir o que não sinto. Chorei, falei um pouco, baixei a guarda. Ousei mostrar-me como estava. Inevitavelmente, pela manifestação incomum de sofrimento, quem professa uma determinada fé, tende a evangelizar-nos. A minha irritabilidade apoquentou-me, desejei o silêncio da minha toca, o lamber das minhas feridas, o escuro da alma em devaneio. Falaram-me de Deus, disseram-me o quanto eu precisava dele e eu, retorcendo as mãos, lá fui dizendo que vivo com Ele diariamente. Que vejo Deus nas pequenas coisas de todos os dias, que vivo se calhar de uma forma mais cristã que muitos auto-proclamados cristão que eu conheço. Não me vinculo a nenhuma religião mas o meu espírito vive bem consciente da alma que é. Disse isto, disse aquilo, fui dizendo umas coisas. Todavia, sentia a pressão, o “Vem, estás mesmo a precisar… Médico? Não precisas de médico nenhum… precisas é de ouvir a palavra do Senhor. Acreditas em milagres?”. E tal e tal. Aproveitei o “Claro que não se deve coagir ninguém a…” para ruminar um “Concordo. Eu, por exemplo, não gosto de ser coagida a nada. Não gosto mesmo, fico doida. Reajo muito mal…” Mau? Muito mau mesmo… Quase tão mau como ter-me apetecido levantar, virar as costas e desandar. Quando me preparava para amotinar o meu corpo, dei-me conta de que há mais de um ano que os meus primos não tinham um dia livre. Um dia, uma tarde, uma manhã, nada. Um momento, sem a mãe para tratar, num processo de senilidade progressiva, sem o pai para lavar, a vida para gerir, na presença constante da doença e da preocupação. No entanto, no primeiro momento livre que tiveram, vieram ver-me. Foi em mim que pensaram para essa tarde. Imediatamente, senti-me serenar. A tensão, que me encrespava o corpo e a alma, deu lugar a uma calma que me transcendeu. Deixei de me sentir claustrofóbica e irritada. Senti-me tão estupidamente envergonhada quanto agradecida por alguém gostar tanto de mim a ponto de partilhar comigo o melhor de si: a sua força, a sua fé, o seu sorriso, o seu abraço. Abri a minha mão cerrada, cheia de raiva contida, e deixei-a ser tocada. Chorei muito, um choro sem defesas, daqueles que lavam a alma e nos fazem levitar. Aquele pensamento, soprado por um qualquer vento de mudança, trouxe-nos a todos uma paz indescritível. E, no fim, não fui obrigada a nada. Ninguém me bateu nem levou de rastos por uma qualquer igreja redentora adentro. Ficou o convite e o desejo de que eu, um dia, quisesse visitar a sua igreja. Sem grilhões, sem obrigações. Ficou o abraço dado com amor, a alma com mais cor, a amizade mais cúmplice.

Pensar antes de agir, salvou-me da estupidez egoísta que nenhum estado depressivo deveria ostentar e que nos leva a ferir, sem piedade, quem connosco se preocupa: os que nos amam. Os que amamos. Afinal, eu não estava certa, apenas cega pela minha própria dor. Abrir-me aos outros lembrou-me que o mundo não gira em torno do meu umbigo e que não parará jamais para eu carpir as minhas mágoas. Mas também me lembrou que não caminho sozinha, que não tenho sempre de ser forte, que devo estender a mão quando preciso com a mesma facilidade com que o faço com quem precisa. Na verdade, não quero uma mão cheia de nada. Adoro o calor de outra mão na minha.

 

Alexandra Vaz

 

09
Mar12

E assim vou indo (Mudança – 7)

Publicado por Mil Razões...

 

Mudança é a palavra de ordem.

Muda-se por tudo e por coisa nenhuma; muda-se porque se quer, porque se pode, porque a isso se obrigam ou nos obrigam, muda-se para ser diferente, muda-se não se sabe bem porquê, muda-se porque sim. As alterações sucedem-se a um ritmo tal que ponho em causa a capacidade de nos adaptarmos a tanta novidade. Ainda mal o nosso cérebro processou um novo software e eis que nos lançam novos desafios, novos cursos de formação para outros mais avançados. 

Nas empresas, o modo como se fazia deixou de ser, passa a fazer-se de forma diferente, muitas vezes formas já anteriormente experimentadas, mas que importa? Importante mesmo, é mudar. Os ativos humanos, como agora se chamam às pessoas nas empresas, são avaliados por esta capacidade de adaptação à mudança.

Mudam-se os hábitos. O que se come, o que se veste, o que se diz e como se diz, os gestos, as entoações, tudo entra ou sai de moda.

A necessidade de mudança está tão presente que se muda o que naturalmente o tempo vai mudando. Em nome de um pretenso bem-estar, da busca do belo e do perfeito, e reivindicando o direito a isso, contraria-se o efeito que o passar dos anos impõe aos nossos corpos. Num frente-a-frente, a vontade de mudar e a não aceitação da pessoa tal como é, quase sempre a primeira leva a melhor. Parte-se então, para uma nova fase da vida. Hoje, põe-se aqui, tira-se ali, corta-se o excesso, amanhã poderá ter de ser o contrário, a moda o dirá. É estonteante!

É minha convicção que muitas mudanças se processam longe do que entendo ser a verdadeira identidade humana, e não são mais do que formas de cada um procurar o seu verdadeiro “eu”.

Também sinto necessidade de mudar, mas estou longe de conseguir a mudança que procuro. É uma mudança lenta que precisa de tempo para se processar. Esforço-me para que a vida, a minha vida, chegue e sirva o meu objetivo de mudança. Como digo, estou longe de conseguir mas sinto-me a mudar e quero chegar ao ponto de não confundir o meu semelhante com os atos que ele pratica, não o valorizando pelo que tem ou faz, mas respeitando-o e amando-o por, simplesmente, ser pessoa.

O tempo dirá se, com este entendimento, não serei também eu uma peça descartável por estar fora de moda...

 

Cidália Carvalho

 

06
Mar12

Abraços por medida (Mudança – 6)

Publicado por Mil Razões...

 

A mudança é um processo, por vezes curto e libertador, longo e penoso noutras, que ocorre depois de um ou de uma série de gatilhos. Em tempos de incertezas, numa era de ruturas, de fragmentação social e de flutuação de valores, as pessoas andam assustadas, desconfortáveis, titubeantes.

Eu sei que não resolve problema algum, mas tive uma ideia que pode ser um bom gatilho para operar algumas mudanças.

Em 2004, um tal de "Juan Mann", de Sydney, Austrália, movido por uma questão pessoal mas querendo servir uma causa maior, decidiu passear-se pela rua com um cartaz oferecendo abraços de borla (free hugs) a toda a gente. A ideia rapidamente tomou proporções mundiais, replicando-se um pouco por todo o lado com variantes nem sempre concordantes com a versão original. O objetivo foi, entre outros, o de colocar um sorriso no rosto das pessoas.

Mas, para a maioria dos abraçados, a causa esgotava a sua função pouco depois do abraço. Mais, um abraço tem subcategorias: há abraços e abraços; uns para isto, outros para aquilo. Há que respeitar o fim a que cada um se destina. E mais ainda, um abraço isolado pode não ser combustível suficiente.

Assim sendo, na busca de um gatilho para operar mudanças, apresento uma ideia clonada da do "Juan" e amplamente discutida com uma boa amiga minha: Abraços por medida. Continuam a ser de borla mas agora passam a ser regulados.

À imagem dos fatos, o objetivo é o de criar um movimento que contenha uma bolsa de voluntários disponíveis para abraçar à medida de cada pessoa, de cada momento, de cada necessidade. A atuação do movimento será em campanhas de rua, em eventos ou (ainda a rever este ponto mas possivelmente) por marcação. Nas campanhas de rua e nos eventos, os voluntários far-se-ão anunciar com o uso de uma t-shirt com a inscrição "Abraços por Medida" (com mais uma ou outra informação pertinente) ou com recurso a outros instrumentos de comunicação. Nos agendamentos será necessário receber e processar os pedidos através de um e-mail (abracos.por.medida@gmail.com). Os voluntários oferecerão o seu entendimento, sensibilidade, disponibilidade e sinceridade sob a forma de um ou mais abraços dados à medida do desejo, necessidade ou sufoco de quem os solicita.

O papel dos voluntários é sempre passivo: serão sempre as pessoas a dirigirem-se aos voluntários, nunca o contrário. Todos os voluntários do movimento terão formação na área do diagnóstico de necessidades, comunicação e administração de abraços.

Mais informações no blogue http://abracospormedida.blogspot.com.

Um abraço, mais do que um símbolo de fraternidade, é um momento no qual o mundo pára por uns instantes para depois recomeçar a rodopiar de forma diferente. Promove um turbilhão emocional que agita ideias sedimentadas e das quais não nos libertamos facilmente. Um abraço por medida, que assente bem, quebra espirais descontroladas de conflito interior.

Basicamente é quentinho e sabe bem.

 

Joel Cunha


02
Mar12

A mudança bate à porta (Mudança – 5)

Publicado por Mil Razões...

 

Será que deixamos entrar? Desde pequenos que nos ensinam “Não abras a porta a estranhos!”. Agora a mudança bate à porta descaradamente e nós que fazemos?

Foi o pensamento que me invadiu ontem, um dia que podia ter sido como outro qualquer, mas não foi porque uma pequena mudança bateu e entrou sem autorização.

Abri os olhos ainda meio a dormir e pensei que não me apetecia nada ir de bicicleta à ginástica... Acordei cheia de preguiça, arranjando motivos para ter que ir às compras e por isso ir de carro até à ginástica para seguir para o supermercado logo de seguida, como se se trata-se de uma urgência! E assim foi. Tudo decorreu calmamente até que, após arrumar o carrinho das compras, parei e apercebi-me que as chaves do carro tinham ficado dentro do carro com este todo trancado.

A primeira mudança à rotina aconteceu logo quando abri os olhos e decidi ir de carro até à ginástica, depois disso, foi um desenrolar de acontecimentos novos...

Ao olhar para o interior do carro lá estava a chave, em cima do tampo da mala. Podia ir até casa a pé, mas a chave de casa estava trancada dentro do carro...

Outra mudança à rotina também condicionou: o meu marido não estava a trabalhar perto de casa, como era habitual... Ontem calhou ser o dia em que, uma vez por acaso, tem que ir para o sul do país...

Liguei para a GNR que me disse que não podia fazer nada, assim como a PSP, restando-me apenas pagar a uma oficina para lá ir e arrombar o carro... Despesas nos dias de hoje não são nada bem vindas... Ainda ponderei “Arrombo o carro ou a casa para tirar a chave suplente do carro, o que me sai mais barato?”. Até isso mudou... Antigamente era mais fácil arrombar carros, pois todos tinham um pequeno botão na porta que a tranca e destranca, bastando conseguir chegar até ela para a abrir. Este carro é um modelo mais recente, que, com as mudanças, já não inclui esse botão tornando a tarefa de arrombar ainda mais difícil...

Optei por recorrer à minha sogra, pedindo que me adotasse durante o dia, até o meu marido chegar com a chave de casa. Mais uma pessoa com o dia cheio de mudanças, já que me acompanhou à escola onde dou aulas e foi comigo até ao local de um exame que tinha que fazer no Porto. Para ela foi um dia diferente, fora da sua rotina diária. Para mim também, apesar de continuar com os meus compromissos aos quais consegui ir graças a ela!

Ao chegar o meu marido, falámos de algumas mudanças que temos que fazer para que dias como este, com alterações pontuais que condicionam todo o dia, não pereçam pesadelos! A ideia de privacidade extrema, como por exemplo, não dar a chave de nossa casa a ninguém, é uma alteração. Eu ir ao supermercado com a carteira com chaves em vez de as deixar no carro, é outra.

Mais mudanças podem ocorrer com uma pequena alteração ao nosso normal. Um pequeno gesto faz toda a diferença... Os meus alunos, não habituados a verem-me de fato de treino, roupa com a qual permaneci todo o dia depois de sair da ginástica de manhã, exclamaram “Teacher, hoje estás de fato de treino!” Essa mudança de visual para eles significou algo...

No final do dia, estava tudo de volta ao normal, sem qualquer mudança aparente, mas será que a nossa mente permanece a mesma? Um dia passado com a minha sogra não é coisa comum... Professoras de inglês que vão de fato de treino, não é habitual...

Afinal, fica sempre uma porta aberta na nossa mente que nos mostra que a rotina diária pode ser alterada sem deixar grande marca no final do dia, pois, apesar das mudanças que a vida possa ter, continuamos a viver de uma forma ou de outra!

 

Sónia Abrantes (articulista convidada)


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