As cores da minha vida (Ser – 4)
Cada um de nós é governado pela sua própria vida. E cada um de nós governa a sua própria vida. Se é verdade que há acontecimentos que nos marcam e nos enfraquecem e sobre os quais não temos qualquer controlo, é também verdade que há momentos decisivos nos quais somos confrontados com diferentes opções e fazemos escolhas. Acontece a mim, acontece a ti, acontece a todas as pessoas. Somos todos, simultaneamente, autores, actores e espectadores da nossa história de vida.
Usando as cores como analogia, percebo agora que a minha vida começou por ser cor-de-rosa. Durante a minha infância, as paredes do meu viver eram cobertas de diferentes tons de rosa, agradáveis, reconfortantes e enternecedores. Nessa fase, tudo corria bem (pelo menos assim parecia) e havia calma e paz, mas eu era apenas actriz da minha vida, os autores e os espectadores eram outras pessoas.
Doze anos passados o rosa deu lugar ao cinzento que, lentamente, deu lugar ao preto. O mundo transformou-se num lugar confuso, estranho e desconfortável, promotor de solidão, ansiedade, desconfiança, medo e desesperança. Os ventos eram bravos e as tempestades constantes. Cada ano que passava parecia uma década e a turbulência parecia não querer desaparecer. Eu era espectadora da minha vida, os autores e os actores eram outras pessoas.
Um dia cheguei à conclusão que não queria continuar a viver no meio de tanta escuridão. Tinha de mudar, fazer alguma coisa. Foi então que reparei que a paleta de cores e o pincel estavam na minha mão, assim como o guião em branco do meu futuro. Não sei há quanto tempo tinha estas ferramentas comigo, mas tinha, e como não queria perder mais tempo comecei a experimentá-las. Colori tudo ao meu redor com um pouco de todas as cores e comecei a escrever o meu futuro. Mandei o meu passado para o passado e trouxe o meu futuro para o presente.
Sou condicionada pelas circunstâncias, como qualquer um de nós, mas não me deixo derrotar. Sou autora, actriz e espectadora da minha história. Dedico-me a ela a cem por cento. Faço-o por mim, mas principalmente, faço-o pelo meu EU futuro. Não quero arrepender-me, quero conquistar. Um dia, quero olhar para trás com satisfação e orgulho, e observar o arco-íris que foi a minha vida.
Ana Gomes