No amor e na paixão (Expectativas – 8)
Um grande amigo enviou para mim, recentemente, um texto de sua autoria em que explorava o facto de ele ser (nas suas próprias palavras), um idiota. Discorrendo nesse texto sobre a sua idiotia em diferentes contextos e fases da sua vida, curiosamente o autor não fez uma única referência ao amor, para não referir a paixão, pois esta é muito mais volátil. Grande falha esta, a do meu amigo que, curiosamente, é pai de vários infantes de relações diferentes. Não acho contudo que ele tenha sido um idiota, quer por ter tido expectativas de futuro em qualquer uma dessas relações, quer por ter esquecido de ligar a idiotia ao amor.
O facto é que a idiotia é uma filha natural do amor e da paixão como provam os inúmeros textos, músicas e filmes. É natural que assim seja. O amor (e então a paixão!) tolda o pensamento ao mais clarividente, transformando o racional em emocional, libertando-nos da realidade e prendendo-nos à realidade. Uma realidade que é real e não é. Não era realidade antes de haver amor e paixão e muito depressa se transforma na realidade que desejamos e queremos, quantas vezes fazendo ouvidos moucos a palavras sábias de quem nos quer o bem e consegue ver a idiotia da mesma.
Todos nós criamos expectativas das nossas relações amorosas. Uso o termo criar porque advém do nascimento e alimentação de uma ideia, um ideal. Esse ideal é o factor que vai regular a expectativa criada da relação e condicionar o seu desenvolvimento futuro. Claro que no início as expectativas são sempre as melhores, mas infelizmente também são sempre dinâmicas e o conhecimento desse facto amedronta. Ninguém ama para sofrer, mas sofre-se com o amor. Tendo todos nós consciência desse facto, vamos regulando as nossas expectativas em função do desenvolvimento da relação. Mas será que temos sempre presente uma expectativa? Será que quem tem 20, 25, 30 anos de relação ainda tem expectativas? Claro que sim. Da inicial "espero que isto funcione" até ao "espero morrer antes de ti para não sofrer com a tua falta", existe um leque incomensurável de expectativas.
Temos é de compreender que essas expectativas mutáveis respondem a uma realidade / realidade temporal. Têm um prazo de validade implícito que até as poderá tornar, mais cedo ou mais tarde, em idiotas e, consequentemente, transformar-nos em idiotas.
Rui Duarte