O dia N (Expectativas – 7)
Desde que se confirma a existência de uma nova vida em desenvolvimento, é inevitável sermos invadidos por um crescente de pensamentos, sentimentos e expectativas.
Estar sempre a pensar se estará tudo bem, se correrá tudo normal, fazer o possível e o impossível para tranquilizar a mente e os pensamentos e, simplesmente, aprender a confiar na vida e naquilo que não podemos controlar, transforma-se em parte da vida diária de uma gestante.
Mesmo sem querer, os sonhos da vida partilhada com este novo ser humano afloram num desenrolar de expectativas, de realizações e caminhos que são nossos e que, inocentemente por vezes, gostaríamos de ver realizados no bebé, projectando nele uma nova oportunidade de fazer tudo certo, tudo o que gostaríamos de ter feito, tudo aquilo que gostaríamos de ter sido e não fomos. Mas a realidade é só uma: o bebé que abraçamos irá ser um ser humano único, com os seus sonhos e os seus objectivos de vida, as suas determinações e erros que se transformarão em aprendizagens. E não é por isso mesmo que todos nós vimos a este mundo-escola?
Também os medos aparecem e, com toda a força possível, arrumamo-los longe… longe de nós e do novo ser para o qual começamos a viver e a respirar. “Há que confiar!” – é a frase mais repetida para que a nuvem negra se afaste.
Por vezes é melhor não criar qualquer tipo de expectativas… nem boas nem más… Podemos sempre imaginar como gostaríamos que fosse, escolher um caminho de entre todas as alternativas que se nos oferecem, mas não podemos ter 100% certeza de que tudo irá ser como queremos.
O que podemos garantir é que o sentimento que possuímos dentro de nós, seja ele bom ou mau, irá ser transmitido e acolhido pelo novo ser humano quando este chegar a este mundo.
Se ele é esperado com amor, carinho, coragem e alegria, a sua recepção será plena de felicidade, de sentimentos nobres, de paz e realização máxima. Quando assim não é, torna-se difícil imaginar… mas podemos tentar antever um cenário onde, muitas vezes, o coração endurecido rapidamente se rende à necessidade e fragilidade demonstradas pelo bebé, tão indefeso e vulnerável. Histórias de violência parental não são aqui exploradas, uma vez que, felizmente, são excepções e não regras.
Ana Lua