Libertarmo-nos e dizer... (Liberdade – 12)
Murmura-se e esconde-se tudo aquilo que não podemos, não devemos ou não queremos que os outros ouçam ou saibam, sejam quem esses outros forem, que num momento são uns e noutro são outros.
Deveria ser obrigatório, por momentos, cada um ignorar as convenções, as regras, os dilemas e abrir a goela para vociferar tudo o que vai na alma, mas sem que isso signifique atropelar a liberdade alheia, ferir o espaço dos demais. Como alguém muito sábio disse: “a minha liberdade acaba onde começa a do outro”.
Fechar os olhos, apenas libertarmo-nos e dizer:
“Quero ter a liberdade de ser gorda... de ter medo... de ser chata... de ser negra... de ser cigana... de ser parola... de berrar... de dizer palavrões... de amar animais como gente... de ser lésbica... de ser diferente de ti!... de ser asiática... de usar decotes e saias curtas... de ser muçulmana... de ser atrasada mental... de ser louca... de usar burka... de rezar de pé... de acreditar em Deus... de dizer que não gosto... de ser feia... de salvar quem eu gosto... esquecer quem me magoa... mostrar-me ofendida... amar incondicionalmente... de apontar os erros... fazer avaliações... beber quando me apetece... brincar e rir à gargalhada... ser feliz!... de chorar... de ficar deprimida... de ter expetativas... de desistir... perder ou ganhar confiança... de defender a terra... de morrer por uma causa... de abortar... de votar... de dar a minha opinião... de ser controversa... de não querer o que os outros querem... de querer tudo só para mim... de partilhar... de ter saudades... de dar tudo o que é meu... de acreditar em extraterrestres... de me considerar fantástica!... de ser cobarde... de não gostar de pão com manteiga... de não querer ter filhos... não querer casar... de usar piercings... de ter tatuagens... de ouvir vozes... de me zangar... de tomar antidepressivos... de gostar de dançar... de ouvir música em altos berros... de ver filmes pornográficos... de gostar de sexo... de sonhar com o impossível... de odiar... de perder... de ser indiana... ser inocente... ser perversa... introvertida... picuinhas... de ser barulhenta... de gostar do silêncio... de não querer a tua companhia... de achar bonito o que os outros acham horrível... de estar triste... de preferir estar sozinha... de adorar multidões... de ser vegetariana... de ser mãe... quero ter a liberdade de poder ser quem sou e que os outros entendam as minhas liberdades e as respeitem mesmo que não gostem ou entendam!”
Susana Cabral