Como viver sem arriscar? (Risco – 2)
Faz tempo que não corro riscos. São coisas da vida que vão acontecendo, mudando. Antes de uma decisão importante, a primeira coisa que fazemos é eliminar os riscos, até que depois de tanto tempo fazendo isso conseguimos chegar a uma zona de conforto, um lugar onde não existem riscos.
Mas é possível viver neste mundo sem riscos? Não. Podemos tentar, mas não controlamos o que acontece ao redor.
E vale a pena correr riscos? Acredito que sim, se apenas envolvem nossas vidas, não a dos outros. Pessoas sem filhos podem se arriscar mais, porque as consequências caem sobre suas cabeças, não sobre as dos seus filhos.
E por aqui, no Brasil, dizem que quem não arrisca não petisca. Outro ponto a considerar, sem arriscar como podemos avançar?
Não tem de outra, a vida em si é um risco. Meu pai gosta de contar a história de um conhecido. Fez toda a sua vida em um quarteirão, morava em um sobrado que também tinha a sua loja e não deixava sua família sair às ruas, com medo dos riscos que corriam. E inacreditavelmente um avião caiu em cima de sua casa, matando a todos. Foi parte de uma porcentagem mínima de acidentes aéreos em zonas residenciais, mas aconteceu.
Nas ruas também se diz, para morrer basta estar vivo. É o risco que corremos desde que chegamos aqui, tudo pode dar errado ou certo, ou viver sempre entre esses dois pólos.
Se arriscar faz parte da alma humana, alguma coisa nos perturba a todos, parece que aquela frase: “E se eu fizer isso ou aquilo?” nos persegue, perguntando na calada da noite se temos ou não coragem de arriscar.
É parte de todos, caso contrário nunca ninguém teria se aventurado ao mar, tão distante, tão desconhecido e sem fim. Mas alguém resolveu arriscar, depois outro e outros tantos vieram para mudar o destino de todos.
Não temos como escapar do risco, apenas porque mesmo sem querer, estamos nos arriscando.
Eu resolvi não correr riscos, mas isso foi uma decisão de minha mente, minha alma não, continua procurando, olhando em volta, querendo saber onde estão as mudanças, apesar dos riscos que possa correr. Eu até tento controlar, respiro fundo, tomo banho de água quente, leio um livro. Mas não funciona assim, o que nos empurra ao futuro é uma alma inquieta, curiosa, que acredita que riscos são sinônimos de vida, quem arrisca vive, quem não arrisca não vive. E quem está vivo não tem escolha, acaba sempre arriscando.
Iara De Dupont (articulista convidada)