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Mil Razões...

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

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01
Jul15

Ainda marginalizamos? (Marginalização – 1)

Publicado por Mil Razões...

TerrifiedMan-GeorgeHodan.jpg

 

Foto: Terrified Man - George Hodan

 

A “nau dos loucos” – (Narrenschiff) de que nos fala Michel Foucault é carregada de simbolismo. A água tem a função de levar para outro lado (o louco; o marginalizado), sendo também purificadora. O louco, ao mesmo tempo que é largado ao longo da margem do rio, sendo afastado do olhar dos outros que habitam as cidades, é purificado pela água. A nau aprisiona o louco, que “Fechado no navio, de onde não escapa, …é entregue ao rio de mil braços, ao mar de mil caminhos […]” (Foucault, 2004, p. 12).

A pessoa com doença mental foi, durante muito tempo, encarada como “não doente” e sujeita a tratamentos pouco dignos e violentos em locais pouco associados à saúde e à doença. A confirmar algumas destas afirmações, Antonin Artaud (Artaud, Van Gogh, Floreal, & Marx, 2010), que passa quase dez anos nos hospitais psiquiátricos, na sua Carta aos Diretores de Asilo de Loucos, refere-se aos “asilos” como “cárceres horríveis onde os reclusos fornecem mão-de-obra gratuita e cómoda, e onde a brutalidade é norma […] O hospício de alienados sob o amparo da ciência e da justiça, é comparável aos quarteis, aos cárceres e às penitenciárias” (pp. 10-11) e adianta, ainda, “A credulidade dos povos civilizados, dos especialistas, dos governantes, reveste a psiquiatria de inexplicáveis luzes sobrenaturais” (p. 9). Nos seus escritos estão também expressas a exclusão e a condenação de que foi alvo e, em nome da individualidade, reclamou a liberdade, baseado na injustiça dos “asilos”. Van Gogh (Artaud et al., 2010) também nos ajuda a entender a realidade no século XIX quando, num internamento no manicómio, o designaram como homem indigno de viver em liberdade, referindo “E cá estou, há muitos dias, fechado e aferrolhado no manicómio, com guardas à vista, sem culpa provada, ou sequer provável” (p. 33). Da mesma forma, Sylvio Floreal, não deixou de escrever sobre a sua experiência e sobre a “loucura” e, num texto que intitula A visão do Inferno, ao referir-se ao hospício, diz que “Reinava a calma paradoxal, absurda, incompatível com aquele ambiente” (p. 59). Estes registos, ancorados em figuras das artes e literatura, são relatos na primeira pessoa que nos transportam para uma realidade que perturba, pela intensidade, simplicidade e nitidez da escrita, acompanhada, aqui e ali, de algumas imagens, também elas esclarecedoras da marginalização da pessoa com doença mental ao longo dos tempos. E hoje, ainda marginalizamos?

 

Ermelinda Macedo

 

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