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O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

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30
Mar10

Quando o telefone toca (Vida em Sociedade – 8)

Publicado por Mil Razões...

 

Era uma tarde perfeita que convidava à calma e à contemplação. Confortavelmente sentada, deixou que o calor entrasse no seu corpo, que o amolecesse, e percorreu com o olhar toda a beleza que se oferecia à sua frente. A varanda permitia-lhe ver uma parte considerável do vale e, lá ao fundo, os montes recortados no céu, tão azul! 

 

O telefone tocou. Voltou a tocar uma e outra vez. “Pode ser que desistam”, pensou. Tocou mais uma vez e desistiram. “Quem seria? Se for assunto importante volta a ligar certamente”. Abandonou-se de novo à observação da paisagem. Enquadrados por choupos, os pastos verdes, de um verde-claro e inocente, estendiam-se por todo o vale até serem interrompidos por austeros castanheiros. Depois começavam os montes. Primeiro os pinheiros, uma mancha verde-escura, compacta, que subia até se diluir na vegetação rasteira que terminava no céu, tão azul! Aí fixou o olhar, nesse azul intenso, uniforme, imenso.

 

O telefone tocou de novo. E desta vez atendeu. “Estou sim”. Do outro lado, o silêncio. “Estou sim, quem fala?” Nada. Pensou em desligar, mas apercebeu-se de uma respiração ofegante que lhe chegava entrecortada, mas nítida. “Está lá? Isto é alguma brincadeira?” Apurou o ouvido e reparou que a respiração se tornara mais forte ainda. “Quer falar, ou não quer falar? Se não quer falar, eu desligo. Tenho mais que fazer”. Um choro contido, baixo, meio respiração, meio choro, fez-se ouvir. “Diga-me quem fala. Bolas, se ligou, é porque precisa de falar comigo. Ou só quer que eu ouça o seu choro?”. O choro continuou e tornou-se ainda mais contido e mais baixo. E continuou. E continuou até que se ouviu, lá no fundo, muito lá no fundo, “Obrigado”. E desligou.

 

Sentiu-se atordoada, confusa e sobretudo inquieta. “Quem seria? Por que terá ligado? Fui brusca. Mas eu também não adivinhava o que se passava? Podia ter-lhe perguntado… Nem sequer me despedi. Mas não tive tempo. Apesar de tudo, a chamada deve ter-lhe feito bem - agradeceu-me. Será que volta a ligar? Se voltar a ligar…”. O olhar regressou à paisagem. Os verdes, os castanhos e o azul do céu permaneciam iguais, mas lá no alto, bem lá no alto do céu, uma nuvem escura, compacta, era agora o centro da sua atenção.            

 

José Quelhas Lima

 

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