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Mil Razões...

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

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27
Set17

As muitas (Saudade – 15)

Publicado por Mil Razões...

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Foto: Woman - Michael Gaida

 

Não que já não soubesse. Mas aquela tomada de consciência…

Foi num dia banal, no meio de uma tarefa ainda mais banal. Ou talvez tenha sido aquele momento em que parou o que estava a fazer para olhar em volta e sentir-se grata. E de súbito uma brisa. E, de um sopro, um suspiro vindo da alma. E sentiu uma saudade inexplicável e dolorosa.

Saudade daquelas todas outras que queria ser e não podia. Saudade das tantas mais vidas que queria viver, mas que eram irrealizáveis.

 

Porque ser é muito mais simples do que desejava. E o aceitar uma pessoa é esperar que esta seja algo de coerente. No mínimo, redutor. Tantas outras pessoas que podia ser (e é), mas que não podem espreitar a luz do dia. Não poder seguir esses trilhos, todos ao mesmo tempo (ou intercalados), faz com que não seja, não viva em pleno. E às vezes, uma ponta de tristeza, uma insatisfação que se instala.

 

O vento já não soprava. Em resignação, dedicou-se novamente à banalidade de uma vida normal. Resta-lhe a quimera.

 

Sandrapep

 

25
Set17

Vazio que preenche a alma (Saudade – 14)

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Foto: Fantasy – Enrique Meseguer

 

“Que a saudade é o pior tormento

É pior do que o esquecimento

É pior do que se entrevar

Que a saudade é o pior castigo

E eu não quero levar comigo

A mortalha do amor

Adeus”

Pedaço de mim; Chico Buarque

 

 

A saudade dói, é verdade, às vezes incomoda como um espinho cravado em baixo da unha. Mas que privilégio é poder senti-la.

Sentir saudade é relembrar um passado feliz. Acho que ninguém sente saudades do que é ruim.

É ter sido feliz, muitas vezes sem saber que era... É poder reconhecer a falta. A falta de alguém, a falta de algum lugar, a falta de um tempo que vivemos, ou de tudo junto. Ter saudade é fazer reviver quem se amou, naquele momento único e precioso que jamais voltará. É repetir a mesma história tantas vezes, todos os dias, de forma que essa pessoa que estava no passado, faça parte do presente. É levar consigo a falta dentro do peito onde quer que se vá. É um vazio deixado no tempo mas que ajuda a preenche a alma.

 

Leticia Silva

 

18
Set17

Viagem ao centro (Saudade – 13)

Publicado por Mil Razões...

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Foto: Father – Olichel Adamovich

 

Agosto é por excelência o mês da saudade. Muitos chegam e muitos partem. Se calhar partem alguns que não chegaram, aproveitando a boa ventura partilhada por familiares próximos. Agosto é também, por excelência, o mês das férias e o mês em que sou “obrigado” a gozar os dias em lei consagrados. Fazem-se planos, junta-se a família e espera-se pelo melhor. Sim, porque as férias de cada ano têm de ser melhores que as anteriores. As deste ano serão vividas e as outras, por muito boas que terão sido, são memórias.

E de memórias muitas vezes se fazem as férias. A expetativa do que virá está com certeza toldada pelas memórias de experiências passadas.

 

Este ano encontrei-me na contingência de umas férias desfasadas do calendário da minha esposa. Quinze dias, só eu os miúdos portanto. Um miúdo e meio na verdade. O mais velho já tem a namorada, os festivais, a praia, o carro e sei lá mais o quê para preencher os seus dias de agosto. Por acordo dispenso-lhe assim a liberdade para empreender as suas “cenas” e passar apenas uma semana com o “cota”.

Nos primeiros sete dias, eu e o mais pequeno, resolvemos facilmente a equação. Praia, serra, mar, rio, piscina, aldeia e cidade. Os avós, as galinhas, os porquinhos-da-índia, os patos, a cadela. Deitar tarde, acordar tarde, os calções de banho, o protetor solar, os chinelos, a coluna de som, a música, as fotos, o calor insuportável e os dias de chuva que estragam tudo. Tudo acabado, tudo enrolado em (boas) memórias.

Nos seguintes sete dias (já agraciados com a presença do mais velho) decidi viajar. Mais para trás. Muito para trás e para o centro, na verdade.

Reservei quarto num hotel construído em 1859, localizado no Luso, mesmo na entrada da Mata do Bussaco. Locais cheios de história portanto. História comum e nacional até. Zona de história também, mas de história familiar. O meu avô nasceu por aqui perto. Avô que o mais velho conheceu mas que o mais novo não teve a mesma sorte. Herdou-lhe o nome, contudo. Justa homenagem ao meu maravilhoso avô. Confesso o meu receio por esta decisão de revisitar o antigo. Claro que os miúdos preferem as coisas novas. O high-tech. Os hotéis xpto vestidos de vidro, aço e madeiras. As grandes piscinas e salas de refeições. Aqui, nada disso. Pelo menos o acesso wifi não era mau...

 

Afinal correu bem. Resmungaram por fazer a mata a pé, mas gostaram. Torceram o nariz quando viram o hotel, mas gostaram. Mostraram-se se calhar surpresos quando lhes anunciei o meu plano para o último dia: em ar de passeio seguiríamos para a aldeia onde o bisavô nasceu. A mim já sabia o que me esperava no coração, na garganta, na face e nas memórias. Da parte dos miúdos não fazia ideia...

O que aconteceu quando entrámos naquela rua estreitinha que dá para o cemitério onde os bisavôs deles estão sepultados, guardo para nós. Mas posso dizer que existem viagens que não têm preço. São viagens que nos levam mesmo ao centro...

 

Rui Duarte

 

15
Set17

Prova d’alma encantada (Saudade – 12)

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Foto: Girl - claudioscott

 

Algures no tempo, perguntaram-me qual a minha palavra portuguesa favorita. Esta poderia ter-se transformado numa daquelas perguntas pesadelo que fazem a nossa cabeça rodar tanto ao ponto desta parecer implodir, não fosse a minha resposta certeira. Saudade.

 

Porquê saudade? Perguntar-se-ão vocês.

Ora porque para além de ser uma palavra genuinamente portuguesa, expressa aquele que para mim é um dos mais belos sentires.

Estar saudoso de algo significa sobretudo, a meu ver, que se viveu ou vive algo de belo. Uma história, um acontecimento, uma vivência, um ser, um estar... que valeria a pena ver repetido ou que aguardamos para retomar do ponto em que de alguma forma ficou em pausa, como quando alguém que amamos parte para outros destinos.

Uma vez li que a saudade pertence a quem fica. Concordo. Quem vai parte em busca de algo, vai viver outras emoções das quais poderá vir a ter saudade. Enquanto isso será alvo de saudosismo, por parte de todos os que ficam nas suas rotinas a aguardar seu regresso.

Saudade é mais que o sentir falta de algo. É estar feliz por ter vivido, por ter estado, por ter conhecido, por ter amado...

 

Que a saudade viva em nós. Como marca da existência de momentos felizes. Da esperança de dias melhores, sorrisos futuros, amores vividos, viagens marcantes... Como prova d'alma que se encantou com a vida.

 

Iolanda Cortez

 

11
Set17

Gratidão (Saudade – 11)

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Foto: Psychology - Clayton

 

Nas minhas consultas reparei, ao longo dos anos, que muitos pacientes dizem sentir uma saudade sem fim de algo ou de alguém, sendo que essa saudade lhes retira qualquer possibilidade de serem felizes. Tenho reparado também que grande parte desses mesmos pacientes recusa a ideia de abandonar a saudade que sente. Estão apegados a ela como se fosse uma entidade. Sempre que se apresenta uma solução para abandonar a saudade e seguir em frente, lá vem um “mas”, um “não pode ser”, um “e se”.

Então, comecei a perceber que a saudade não está relacionada com o passado, como inicialmente considerei. Não é a constante recordação de um acontecimento ou pessoa do passado que espoleta a saudade, mas sim o que já não se vai mais viver com essa pessoa ou com essas condições. É o medo do vazio do futuro sem aquelas caraterísticas do passado que nos faz ficar cativos nessa emoção. É a hipótese não vivida, a expetativa criada que nos deixa assim, presos a um vazio do futuro, mascarado com o que aconteceu no passado.

 

Porém, há boas notícias: a saudade cura-se! Como? Sendo profundamente agradecido pelo que se viveu, pelo que se evoluiu com a experiência. Mas seguindo em frente, rumo a novas lembranças, a novas saudades.

 

Sara Almeida

 

08
Set17

Era uma vez (Saudade – 10)

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Foto: Girls - Nikola Pešková

 

Entraste na minha vida pela porta da frente. Foi em setembro, ainda numa manhã de verão (ou seria já de outono?). Sentada, sozinha, na sala de aula, na última carteira da segunda fila. A primeira impressão que tive de ti não foi a melhor: uma pessoa arrogante, de nariz empinado, com a mania a achar que era mais do que os outros. “Tira o limão da boca” foi a frase célebre que melhor caracteriza essa tua caraterística expressão facial.

Provaste-me como não podia estar mais errada. Aproximámo-nos por intermédio de amigos comuns que, sem darem conta, fizeram de nós amigas para a vida. Ou, pelo menos, assim pensava eu. Naquela altura, e durante muitos anos, achámos as duas.

Viviam-se tempos confusos dentro da minha cabeça, não fosse aquela a fase da adolescência. Eu não permitia a qualquer pessoa que entrasse sem pedir licença. Tu não pediste, mas acabei por gostar dessa tua ousadia. Talvez a palavra que melhor te definia naquela altura (se é que alguém se sente minimamente definido aos dezasseis anos!). Trouxeste-me uma nova perspetiva em relação às coisas, foste uma lufada de ar fresco.

 

Anos se passaram, dez para ser mais precisa, onde a convivência era imensa, mas a cumplicidade ainda maior e melhor. Vivemos aventuras juntas, noites bem passadas (dias também!), momentos menos bons; dividimos quase tudo: alegrias, risos e sorrisos, cigarros, conquistas, incertezas, conselhos, ideias, desilusões… Acho que só não dividimos homens! E, quanto a isso, continuo certa de que fizemos bem!

De tudo aquilo que partilhamos, a cumplicidade era, para mim, o que tínhamos de mais bonito e precioso. Quase como se fosse um tesouro. Perceber, como que por uma espécie de conexão telepática, que algo não ia bem, ou então que algo ia muito bem; a palavra falada que não revelava tudo, mas que a outra entendia o tudo que ela não dizia; aquele olhar trocado que bastava para perceber o que a outra estava a pensar; o riso malandro, porque tínhamos pensado exatamente na mesma piada obscena…

 

Considero que há muitas formas de amor, e de amar. Por isso, há também o amor que anda de mãos dadas com a amizade. Não é um amor romântico, mas não deixa de ser amor. Achava que esse tipo de amor era para a vida, mais do que qualquer amor romântico. Até que me apercebi que não é! A fragilidade da nossa amizade, coisa que eu achava difícil existir, revelou-se. É possível que tenha sido esse o meu erro: achar que as relações duradouras, com raízes (pro)fundas não são tão frágeis assim. Certo é que essa fragilidade apareceu. E da forma mais estúpida possível, levando, como se fosse o vento, tudo o que havia. Como é possível? Não sei.

Agora, no lugar da cumplicidade resta apenas… estranheza! Agarro-me às boas recordações dessa cumplicidade e às saudades que dela sinto. Mas a saudade é boa na mesma medida em que é má: e tanto é doloroso o vazio que essa estranheza provoca, como é dolorosa a saudade, por ser ela a única coisa que resta desta amizade. “O pior tipo de estranho é aquele que um dia você conheceu.”.

 

Sandra Sousa

 

06
Set17

Reflexões (Saudade – 9)

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Foto: Vintage-1950s - Jill Wellington

 

- Só temos saudades das coisas boas que vivemos, porque das más não temos saudades nenhumas!

 

Saudade é reviver memórias, momentos que nos fizeram sentir felizes! É aquela sensação de saborear de novo todas as nuances das emoções desencadeadas pelas vivências mais afortunadas.

As “saudades do que não vivi”, residem apenas na fantasia do que se ambicionaria viver de bom.

Saudade é viver amor, é amar em retrospetiva!

 

Tayhta Visinho

 

04
Set17

Entre quem é! (Saudade – 8)

Publicado por Mil Razões...

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Foto: Nostalgia – Marko Lovric

 

“...

Senhora Saudade,

não sei por que encanto

me trazes espinhos

e eu te quero tanto!

 

Senhora Saudade

se o teu manto santo

servisse ao meu corpo,

não teria espanto...

...”

Senhora Saudade; T. T.

 

Ela vem sempre cheia de dores – às vezes grandes, graves, mortais; outras vezes, apenas pequenos achaques, pequenas febres, pequenas cismas. Mas volta sempre, isso é certo como o bater do nosso coração. Entra-nos de mansinho pela porta dentro, alquebrada e triste, vestida de cor indefinida, assim numa espécie de tom órfão de luz, ou viúvo de cor. Nunca se sabe bem... depende da maleita que a traz.  Mas sei que não é preto, o seu manto. Tenho a certeza – a ilusória negrura que lhe atribuímos, na minha opinião, é devida ao mero facto de que ela, normalmente, nos aparece assim de repente, recortada no umbral da porta e nós a vemos em contraluz, do lado de dentro da vida onde nos calha morar, ou do tugúrio onde nos restou esconder.

Ela entra, fecha a porta atrás dela, abraça-nos como se nós fossemos a sua salvação (que ironia!...) e deixa-se ficar, invade cada cantinho da casa, paga, religiosamente, o tributo à penumbra que nos cerca e planta as suas próprias raízes no nosso coração. Ora é doce, ora é cruel. Ora nos prende com os seus braços asfixiantes, ora nos afasta dela, para que não nos pegue as suas maleitas. Ora nos beija em delírio ardente, contaminando a nossa pele com as chagas dos seus lábios, ora nos sopra as feridas vivas.

E as suas raízes vão crescendo, crescendo, dentro de nós. O nosso coração torna-se terra arável, fértil. Crescem dentro dele árvores, que nos servirão de sombra, e cujos frutos servirão de alimento à nossa alma. E cujos ramos servirão para construir todas as cruzes que carregarmos, ao longo do nosso percurso, as grandes, as pequenas, as assim-assim – mas todas elas necessárias, indeclináveis, para que cumpramos a nossa via-sacra e para que possamos pendurar as nossas memórias, como flores renascidas a cada estação de esperança.

Os nossos olhos, entretanto, habituar-se-ão à penumbra que ela trouxe consigo, nas dobras das suas vestes de melancolia e já não a verão tão negra. As nossas mãos já lhe irão identificando as feições e os nossos ouvidos aprenderão a reconhecer os seus passos arrastados. O seu toque já nos será brando e doce, e a sua presença, prova de amor e promessa de serenidade. E entenderemos que somos ditosos por tê-la ao nosso lado, sempre, ajudando-nos a erguer todas as cruzes, mesmo aquela que lhe indicou o caminho para a casa lúgubre onde nos refugiamos, quando ela nos encontrou e entrou, sem bater, sem esperar que lhe abríssemos a porta. Entenderemos, sobretudo, que em algum ponto do nosso caminho fomos felizes – porque só se já tivermos sido felizes, nos calhará por companheira a Saudade. Para sempre, se a felicidade foi grande e a Dor maior. Ou até que a paisagem nos distraia, se a estação de rosas foi passageira e a continuação da viagem dispensar a sua sombra triste como companhia. 

Num e noutro caso e em todos os incontáveis casos de permeio, a Saudade velará, atenta e pronta a coabitar connosco visceralmente, amando-nos na solidão e cuidando-nos na dor, com a ajuda do Tempo e da Serenidade. A nós, resta-nos amá-la e respeitá-la. Como se respeitássemos todas as árvores que nos crescem por dentro – e tudo o que elas nos dão, sem ruído nem lágrimas: sombra, flores, frutos, ar... As nossas cruzes, sim, também as nossas cruzes. Ah!... e ninhos.  Esperança. E a seiva de que são feitos todos os sonhos.

 

Teresa Teixeira

 

01
Set17

O princípio do fim (Saudade – 7)

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Model-EnginAkyurt.jpg

Foto: Model – Engin Akyurt

 

Na cadência dos dias, não olho para trás com vontade de retroceder no calendário.

Quando digo isto, não raras vezes, alguém me devolve “Ah, pois, ainda não te bateu, foi isso… Quando te der, ainda vai ser pior do que a mim, vai ser assim, de repente, mas vai chegar, não tenhas dúvidas…”. Parece que esta coisa do envelhecer não está a funcionar comigo como “deveria”. Nunca senti “quem me dera ter vinte anos e saber o que sei hoje” – dizem-me ser o sinal inequívoco do “princípio do fim”.

Olho à minha volta, oiço os amigos, as meias conversas no café, no trabalho e nas ruas da cidade: depois de (in)determinada idade, um generoso número de pessoas parece abraçar um saudosismo doentio, repetido como um mantra, que as mantém reféns de memórias irrepetíveis. Como se cada dia mais nas suas vidas fosse uma sentença de morte e não uma bênção. Nem se dão conta do maior estrago de todos: na dormência autoimposta, perdido fica o dia de hoje e todos os que se lhe seguem, em nome dos dias idos. Das coisas mais tristes a que assisto. E eles repetem, “vai chegar, ah vai vai... Gostas de envelhecer, pois claro, andas é iludida… Olha que já não tens muito mais tempo para continuares a pensar que és nova e com saúde e que vais sempre viver com essa ligeireza…”.

Penso com frequência quando chegará o meu dia. O tal dia, o tal momento, em que também eu passarei a circular em sentido contrário na escada rolante. Mas ainda não chegou esse dia. Cada nova aurora impele-me a avançar, mesmo quando me levanto sem força para sonhar. Não olho para trás, não me dou a cenários do “…e se…”. Tenho outras formas de me atormentar mas, esta, não faz parte do meu cardápio. Sei hoje que existe uma lição a tirar e, consequentemente, uma aprendizagem de tudo o que já vivi. Até daquilo que quase me destruiu. Profunda gratidão pelas lições de vida que tenho recebido, mas a coisa nenhuma, boa ou má, eu gostaria de voltar. Nenhuma delas faria qualquer sentido hoje, por isso, não lhes dou muito tempo dentro de mim.

 

Quanto mais o tempo passa, quanto mais a minha consciência caminha a par e passo com o Amor-próprio, mais insuportáveis se tornam as relações de dependência que alimentei durante anos, com pessoas que nunca de mim cuidaram. Uma a uma, retiro-as da bagagem, sem as desprimorar, e permito-me caminhar mais leve. Fecho ciclos, deixo partir quem não está comigo por mim, mas porque precisa de mim. Gente que enaltece a minha força e a minha resiliência, enquanto cronometra o tempo que demoro a cair mas que, nas vezes em que me estendi ao comprido, não esteve lá para mim. É preciso deixar esse espaço, na alma e no coração, para aquilo que nos faz felizes, para aqueles que nunca de nós sairão, ainda que a vida os leve. Porque há gente verdadeira e integralmente insubstituível. Os que amo, nunca de mim partirão. É no amor sem fim que sinto a Imortalidade. É, com todos os que amo que hoje caminho, mais rica, mais forte. É por eles que faz sentido agradecer cada dia a mais que vivo.

Não tenho saudades de ninguém com quem ousei, um dia, sonhar construir uma vida porque o meu coração sabe que não era suposto acontecer dessa forma. Agradeço o que me foi dado mas não quero reviver nenhuma história. Entre uma ou outra página mais indigesta, folheio o livro da minha vida sem angústia ou saudosismos, sem sentir que “os melhores dias da minha vida já passaram” ou “se eu pensar neles até à exaustão, eles vão voltar“. Não os desejo de volta. Já vivi dias extraordinários, verdadeiramente mágicos, mas sinto que alguns dos melhores dias da minha vida ainda estão por acontecer. Cada dia tem sido único e irrepetível.

 

Tenho saudades daquilo que não vivi, das formas que encaixam em mim como uma luva mas que ainda não têm contornos definidos. Tenho saudade da essência da minha pele, antes da amnésia da educação. Isso a que chamais saudade, e que vos atira lá para trás, a mim move-me para a frente como uma catapulta. É ela que me guia, quando não vejo um palmo à frente do nariz, e me lembra o que é importante. Não tenho tempo para arrependimentos ou agonias prolongadas. Não posso caminhar para trás, já não sou a pessoa que um dia fui. Honro os dias que passaram, vivendo o dia de hoje com gratidão. É assim que descubro quem sou, nas nuances das pequenas/grandes coisas que tenho na minha vida, um dia atrás do outro.

Saudade é o que sinto aqui, agora, no alto desta montanha, abraçada pelo desconhecido e pelos sons da vida à minha volta. É este calor no coração, esta força que me faz fechar os olhos, abrir os braços ao mundo e sentir-me em casa, dentro de mim. Muitos dos meus dias serão vividos pela metade, soube-o à medida que a vida me foi levando os que amo. Sei também que nenhum dia vai sobrar no fim. É isto que a saudade me lembra. É isto que recuso esquecer.

 

Alexandra Vaz

 

Porto | Portugal

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