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Mil Razões...

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

O quotidiano e a nossa saúde emocional e mental.

20
Abr09

Sonhos

Publicado por Mil Razões...

 

Por mais voltas que a vida dê, há sempre algo que nos persegue.
Achamos que já resolvemos, achamos que já está para trás das costas, e no final, quando menos esperamos, aparece-nos num sonho como que a dizer que não esquecemos o que queremos, que há coisas que estão sempre presentes, por mais que quando em consciência, afirmemos peremptoriamente que está tudo resolvido…
 
E constatamos que não está. E que provavelmente nunca vai estar.
 
Quando acordados dizemos para nós mesmos que está, talvez porque só assim conseguiremos andar para a frente.
Mas nos sonhos ninguém nos diz o que não queremos, ninguém nos põe limitações. Nos sonhos as dores vêm ao de cima, as saudades, os desejos mais pequeninos e mais escondidos.
Tudo o que esquecemos grita por socorro em sonhos.
Entendemos assim o que nos falta, o que queremos, o que não queremos, os medos, as saudades, as culpas…
E tudo é real… a dor, os beijos, as festas, as cores, lugares e situações. Faz-nos perceber que não somos tão fortes como imaginávamos, que há coisas que mesmo distantes ainda doem muito, que há pessoas que nos fazem demasiada falta, que a vida que sonhamos não é nem de longe nem de perto a que levamos.
 
No meio disto uma certeza apenas… que bom ou mau, um sonho acaba sempre.
 
Será que o despertar dá aos sonhos uma fama que eles não merecem???
 
Filipa
 
17
Abr09

1.as Jornadas sobre Os Caminhos da Solidão

Publicado por Mil Razões...

Às 9h, o Pequeno Auditório do Rivoli, gentilmente cedido pela Câmara Municipal o Porto, estava pronto para receber os participantes, na sua maioria estudantes, para assistirem a mais um simpósio Mil Razões…, sobre Os Caminhos da Solidão.

Na régie ultimavam-se as afinações técnicas.
 
 
O Dr. José Ferreira dos Santos do Secretariado Diocesano da Pastoral Social e Caritativa - Diocese Porto, subiu ao palco para dar início aos trabalhos.
 
José Ferreira dos Santos
 
O Mestre Rui Duarte, da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental - Porto, apresentou o seu trabalho sobre solidão, elaborado junto de um grupo de pessoas dos 20 aos 51 anos. O grupo estudado é muito especial porque se trata de pessoas com deficiência mental. O resultado do estudo foi surpreendente pela “normalidade” das respostas. À pergunta: “O que é a solidão?”, 50% deles não sabia dar uma definição, os outros 50% deram a definição do dicionário. Curiosamente verificaram-se as mesmas percentagens quando o Mestre Rui Duarte fez a mesma pergunta à assistência.
Surpreendentes foram as respostas dadas à pergunta: “O que sentes quando estás sozinho?”. “Medo”, “Não gosto”, “Sinto-me bem”, foram algumas das respostas. Um dos entrevistados referiu que sentia que estava a escrever à mãe...
 
Rui Duarte
 
O Padre Lino Maia tipificou as várias solidões: o isolamento das pessoas do interior, os bairros sociais, os desempregados, os doentes e os idosos. Pôs a tónica nos afectos como remédio para a solidão.
 
Lino Maia
 
O Mestre Ivandro Soares Monteiro mostrou-nos como o funcionamento fisiológico pode ser potenciador da solidão.
 
O Professor Abílio de Oliveira terminou o Painel da Manhã de forma brilhante, convidando-nos a ouvir, em silêncio, músicas dos The Cure e dos Joe Division. A música era acompanhada de imagens fortes de jovens que, desafiam a morte para conquistar a vida...
 
Rui Duarte, Alexandre Teixeira, Ivandro Soares Monteiro e Abílio Oliveira
 
O Painel da Tarde, moderado pelo jornalista Carlos Enes, começou com o Professor José Eduardo Rebelo que nos lembrou a necessidade de fazer o luto para que o ente querido, perdido, se instale como doces e suaves memórias.
 
  
José Eduardo Rebelo
 
O Professor Carlos Mota Cardoso, tranquilamente, falou-nos de estados tão fortes como a morte, a comunicação e a solidão sentida, ainda que, e paradoxalmente, muitas vezes não estejamos sós.
 
Carlos Mota Cardoso
 
Emocionante, foi também a história de José, personagem de uma das histórias do livro do Professor José Machado Pais, para o qual a solidão existe porque, simplesmente, existe o desencontro...
 
José Machado Pais
 
O Professor Pinto da Costa trouxe-nos a visão de que, no Século XXI, o Homem vive comprimido num quadrado cujos lados são a prostituição, a droga, o tráfico de influências e o tráfico de armas e que, para a sobreviver, o Homem, está cada vez menos humanizado e mais mecanizado.
 
Pinto da Costa
 
José Machado Pais, Carlos Enes, Pinto da Costa e Carlos Mota Cardoso
 
Os trabalhos encerraram com a intervenção da Dr.ª Matilde Alves, Vereadora da Câmara Municipal do Porto e Presidente do Conselho de Administração da Fundação Porto Social.
 
Matilde Alves
 
Cidália Carvalho
 
02
Abr09

Instalar-se na Solidão (A Solidão do Artista)

Publicado por Mil Razões...

 

 

Solidão, diz o dicionário, é o estado do que está só.
 
Sabemos que aquele que está só pode sentir-se feliz ou não… de todo. O que leva a pensar que solidão não é apenas o estado de estar só. A palavra que tem graves conotações - de desventura, de mágoa - representa também um sentimento.
 
Como sentimento, pode querer dizer abandono. Abandono, desistência, repúdio, desamparo… Que será consequência de incapacidade natural de comunicar – de ouvir e de falar com os outros. Ou pode ter outras origens: a desestruturação da família tradicional terá acabado com a afectividade social fácil senão espontânea. Poderá ser questão de temperamento?
 
As pessoas incapazes de dialogar, supostamente rejeitadas, tornam-se agressivas, transformam o mundo num imenso campo de batalha, onde lutam… distantes, incompreendidas e incapazes de compreender. 
 
O estar só, simplesmente, não quer significar solidão com todo o conhecido cortejo de características negativas, mas pode ser um desejo e uma necessidade, uma vontade e uma satisfação.
 
E haverá momentos em que as duas situações se associam: queremos estar sós e em silêncio porque precisamos absolutamente disso para o nosso trabalho, mas não queremos prolongar esse estado nem o sentimento (eu abandono os próximos, os outros abandonam-me, logo sentirei a solidão) para além do tempo em que necessitamos de nos concentrar e de trabalhar sem dispersão.
 
Por isso, digo, verdadeiramente ninguém aprecia estar só, quero dizer, não… 24 horas por dia, 7 dias por semana, a vida toda. Apenas o faremos com alegria e, mesmo assim, durante o tempo necessário, se estivermos obcecados por uma acção que nos preencha inteiramente.
 
O trabalho, qualquer trabalho, é esforço e pena, mesmo quando dá prazer a quem o realiza e deleita aqueles a quem se destina, como é o caso do trabalho do escritor.
Na sua linguagem radiosa, muito criativa e estimulante, Roland Barthes toca o ponto fundamental quando enuncia a dificuldade principal do escritor moderno – o que o faz sofrer, o que o leva ao isolamento, ou, se quiserem, à solidão. Que é também a da sua escrita.
 
Tento explicar, seguindo Barthes.
 
 “Como a arte moderna na sua totalidade, a escrita literária contém simultaneamente a alienação da História e o sonho da História: como necessidade atesta o dilaceramento das linguagens... como liberdade é a consciência desse dilaceramento e o próprio esforço que pretende ultrapassá-la”.
 
O escritor convencido da sua modernidade procura uma ruptura na língua; que é um sistema de valores e uma instituição social e, como tal, não pode ser modificada por nenhum indivíduo. E, de qualquer modo, resiste: foi construída por ninguém para que a comunidade se entendesse. Tudo o que podemos fazer é aprender a manobrá-la.
 
O que o escritor pretende, aquilo a que se obriga, e que é criar uma linguagem nova e livre, talvez nunca passe de projecto ou de sonho ou de experiência, já que o tumulto que provoca na língua vai tornar a escrita ilegível.
 
Apesar de tudo e de todos os seus desejos e prazeres, esforça-se por comunicar ainda, a um outro nível, empenha-se em dizer alguma coisa, mesmo que seja outra coisa, mesmo que não seja o que diz, mesmo que seja o que não diz.
 
Penso que a escrita neste sentido se assemelha à pintura não figurativa e como qualquer outra arte do nosso tempo, corresponde à visão de um mundo desordenado e intrigante e também a "modificações decisivas de mentalidades e de consciências".
 
No século XIX, os escritores concebiam belas histórias românticas, e davam às suas narrativas a forma tradicional do romance. Os poetas queriam estar sós e tristes porque isso era interessante para a sua obra afectiva e sensível - assim António Nobre, Fernando Pessoa, tantos outros. E havia os génios que tinham a primazia do estado solitário.
 
Presentemente, pensa-se que as histórias estão todas bem ou mal contadas e os poemas líricos todos ditos, o que importa é o trabalho com a linguagem.
 
É evidente que o pobre escritor e o poeta contemporâneos têm de utilizar os velhos significantes ligados aos antigos significados porque esses são os signos que constituem a língua que usam. E, do mesmo modo, devem abandonar a literatura que os antecedeu. Mas a sua obra vai tornar-se-á escrita , tal como pretendem, no fim de um trabalho que é provocante e maldoso - o de perverter a sagrada língua da Mãe e dos Avós.
 
Deve ele usar a língua pura, purificá-la mais, ou perverter a língua? Quer novidades que só surgem com … O escritor é uma pessoa de bem, por isso, se interroga de que modo pode perverter a língua sem a perverter. É nesse duro dilema que a sua consciência se despedaça.
 
Se, apesar de toda esta actividade considerada criminosa, quer continuar a ser escritor é porque acredita que lhe está prometido um mundo novo, onde a linguagem será asseada e viçosa e brilhante. E não resiste.
 
O trabalho a partir de materiais usados não é exclusivo do escritor, mas ele é o único que utiliza o que, além de pertencer à comunidade, é sua pertença de modo tão privado, como uma qualidade que é sua desde que se conhece, como sua cultura e sua pátria.
Uma das razões do desejo de estar só e de solidão é que esse trabalho torturante implica uma cabeça limpa e em silêncio. E não se trata apenas do silêncio exterior a si.
 
Por vezes, sinto que tenho de empurrar pensamentos persistentes, impeli-los com força como caixotes pesados, afastá-los do centro da minha mente para ter aí espaço, que sinto como físico, para aqueles com que me quero ocupar.
 
E a escrita, culpada do afastamento do autor (se a sua linguagem é diferente, ele fica desligado dos outros e é esta a solidão que dói), é ela própria solitária porque é indecifrável, quero dizer, não comunica facilmente, quase desiste de desamparo, (haverá um código que se descobre no momento em que há que inventar outro), mas tem sempre e ainda uma esperança de expressividade, tal como o autor. A escrita quer conservar um sentido vago, um reflexo, uma diminuta recordação do velho código, talvez uma metáfora.
 
E como as pessoas incapazes de dialogar, a escrita é agressiva na sua luta isolada para ser aceite e entendida.
 
 “Sentindo-se constantemente culpada da sua solidão, ela não deixa de ser por isso uma imaginação ávida de uma felicidade das palavras, precipita-se para uma linguagem sonhada cuja frescura, por uma espécie de antecipação ideal, representa a perfeição de um mundo novo adâmico onde a linguagem já não seria alienada”.
 
Deveremos ser sensíveis e pesquisar, estudar, tentar conhecer.
 
Enfim há muitas solidões para o escritor: as dele - a voluntária e desejada (gostava de inventar uma palavra nova) que é um silêncio, exterior; o outro silêncio que afasta os ruídos interiores; a que não deseja e lhe vem das dificuldades de um trabalho criativo e subversivo (a sua escrita – original e difícil de compreender - afasta-o e isola-o dos outros). E a da escrita, a solidão da escrita, ela própria a afastar-se das outras escritas.
 
Devo concluir contudo que há apenas duas qualidades de solidão para qualquer pessoa: a que se deseja e a que se sofre.
 
Zilda Cardoso
(escritora, convidada do MiL RAZõES...)

 

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